terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O céu é o lugar dos poetas

"Que o nome querido já nos soa como os outros".
Manuel Bandeira.

Não sei por que, mas hoje quis contemplar o céu estrelado. Um céu como o de todas as noites, com Lua e coberto de estrelas. Mas ele me atrai de maneira inexplicável, como um velho amigo querendo me contar um segredo, porém aumentando o suspense para me deixar curiosa.
De repente vejo sem esforço: há uma bela Lua na noite. O mais incrível é que sua prata está um tanto embaçada por uma nuvem vaporosa, que existe apenas porque atrapalha um pouco o esplendor da luz. Que visão magnífica! Parece que a Lua, transformada em pérola, está afogada num mar em pleno céu, esperando que algum aventureiro vá resgatá-la para permitir a ela exibir todo o seu brilho para a platéia de seres humanos para quem agora é noite.
Engraçado é que de alguma forma sinto que poderia fazer esse resgate, mesmo não podendo fisicamente voar para o céu e agarrar a Lua e lutar contra aquela nuvem. As palavras e imagens me vêm à cabeça num turbilhão. Aquela Lua presa naquela gaze feita camisa-de-força podia ser tudo e podia ser nada, podia também ser apenas uma Lua atrás de uma nuvem.
Estou me sentindo uma argonauta, e então vejo: foi aquela mesma Lua, aquela mesma nuvem, que um dia inspiraram Olavo Bilac, Cruz e Sousa e tantos outros. Todos eles tinham seguido esse caminho um dia, como um destino. Posso vê-los ali, naquela Lua e naquela nuvem, tendo as estrelas como cordiais irmãs, de brilho e de proximidade.
Entre eles vejo o meu amigo poeta, e isso me dá vontade de rir. Esse meu estado fora do normal só pode ser obra dele, de tanto ele me injetar poesia. O que me admira é ele continuar fazendo isso depois de morto. (Decerto que não pelas palavras dele, pois não voltei a lê-lo depois que morreu...) Vai ver porque ele era muito bom poeta, e melhor ainda ser humano. Por tudo isso, não quero deletá-lo nem da minha mente, nem do meu coração. Que o nome querido dele não me soe como os outros, como diria Manuel Bandeira, outro que vejo na Lua e na nuvem. Se isso acontecer algum dia, acho que terei perdido aquela Lua e aquela nuvem. Terei perdido algo de grande valor.

- Bem, gente - finalizou Isabela, após terminar de ler esse seu depoimento para o público da oficina literária da qual estava participando havia apenas dois dias. - ,tentei aí descrever e narrar esse momento, mas ao mesmo tempo que fosse de uma forma instigante, que você terminasse de ler e se sentisse enlevado, surpreendido, provocado ou até perguntasse "O que é isso?" e fosse dormir com essa interrogação na cabeça. Queria, por exemplo, saber manejar palavras complexas em frases lindíssimas, como Cruz e Sousa e Carlos Drummond de Andrade, sabe, extraindo coisas das palavras mais simples que ninguém nunca viu antes. Não tenho a menor idéia se consegui algum desses meus objetivos, ou se estou aqui fazendo papel de palhaça, me julgando escritora ou poetisa, e no fim vocês já viram isso da mesma forma, em milhares de poetas diferentes, pois o que não falta nesse mundo é poeta e escritor, ou gente que se intitula assim. Nem o tema é original...
Fim.
Data: 7 de novembro de 2009.

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