sábado, 17 de outubro de 2009

A vida e a morte

A vida e a morte, de Gustav Klimt (1910-1915, óleo sobre tela).
A vida e a morte
"Os Nomes
Duas vezes se morre:

Primeiro na carne, depois no nome:
Esvaziando-se de seu casto conteúdo
-Tantos gestos, palavras, silêncios -
Até um dia sentimos
Com uma pancada de espanto (ou de remorso?)
Que o nome querido já nos soa como os outros”.
Manuel Bandeira.
“Quando somente uma é a verdade, não existe verdade; quando a ordem é sempre a mesma – eis a barbárie! Então a única lei é a inércia, e tudo perde a força. As coisas todas perdem sua vontade – pois força do todo é força nenhuma!”
Gustavo Diaz, em “Caim”.

A morte escura, em expectativa. Na verdade, um esqueleto envolto numa capa, segurando um cetro vermelho e sorrindo sarcasticamente. Não passa de uma figura ridícula. Mas amedronta. Talvez porque represente o nosso futuro.
Contingentes de vida coloridos estão numa situação esquerda, irremediavelmente ligados a ela, é só uma questão de tempo para que passem para o outro lado. E não voltem mais. E desapareçam do mundo dos vivos aos poucos. Será que é disso que temos medo? Vão na direção da morte, como se fossem um barco à deriva, mais um grupo de pessoas. Há crianças, adolescentes, adultos e velhos. Homens e mulheres. Parecendo não saber para onde a vida os leva. (Se ficassem pensando na morte, não viveriam. Ninguém se encantaria com um nascimento, ninguém se preocuparia com sobrevivência, nem com bondade, alma, progresso, desenvolvimento das ciências e das artes...)
Todos os dias duelamos com a morte, para tirar da vida essas e outras coisas. Mas um dia perdemos. Não se pode ganhar todas. Também precisamos descansar, como a anciã cansada do grupo, que deseja isso mais do que tudo. Se não morrêssemos, a própria vida nos seria inútil, pois não poderíamos extrair nada dela. Fruta só com casca, sem os gomos sumarentos.
Sendo assim, escolhemos como lidar com a morte. Muitos esquecem que um dia vão se encontrar com ela, então quando acontece se rebelam; outros vão serenamente. Alguns a procuram com desespero. Alguns lucram com ela, outros perdem. Alguns matam sem querer, outros matam porque querem, e nem sempre é o corpo que morre. Há os que morrem em vida, e há os que mesmo na morte vivem. Há os espíritos que voltam e os que não voltam. E existem os que pagam um dízimo para a eternidade, a fim de que continuem vivendo mesmo depois de mortos.
Como assim? Por exemplo, numa obra de Gustav Klimt.
Fim.
Data: 10/10/09.

Um comentário:

  1. Gostei muito do texto quando o li no meu e-mail, como foi postado pela oficina, fiquei curioso em saber de quem, até então imaginado que o texto fosse do Fábio. Muito me supreendeu ao ver que é seu Ana! Meus parabens é isso aí gente!

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