segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PUC-PR promove X Fórum de Letras

PUCPR promove X Fórum de Letras
Evento acontecerá nos dias 30 de setembro, 1º e 2 de outubro
O curso de Letras da PUCPR promove, nos dias 30 de setembro, 1 e 2 de outubro, o X Fórum de Letras. O evento contará com a presença de palestrantes e profissionais renomados da área, como o linguista Sirio Possenti, da Unicamp, e Miguel Sanches Neto, escritor e pró-reitor da UEPG. A programação refletirá sobre temas contemporâneos da Linguística, Literatura e áreas correlatas. As inscrições devem ser feitas no site.

Confira a programação:

Dia 30/09
19:00- Palestra de Abertura- Miguel Sanches Neto (Escritor e Pró-reitor UEPG)
20:30- Momento cultural
21:00- Mesa redonda: A literatura e suas relações:Marilene Weinhart (UFPR)
Marcelo Franz e José Carlos. Nilma Almeida (mediadora)

Dia 01/10
18:00- Lançamento de livro - Daniel Osiec
19:00- Palestra: Sírio Possenti (Unicamp)
Palestra: Egídio Romanelli PUCPR (A neurolinguística)
20:30- Momento cultural
21:00- Comunicações e mini-cursos/ Noite de autógrafos: Luiz Andriolli.

Dia 02/10
18:00- Comunicações
19:00 Mesa redonda: A aquisição de linguagem em situações especiais- Rossana Finau (UTFPR), Deizi Link , Cayo Martin, Angela Gusso (mediadora)
20:30- Momento cultural
21:00- Mesa redonda: Geraldo Peçanha de Almeida (Pro-infante) e Elizabete. Mediadora: Catia Toledo
22:15- Entrega do prêmio do concurso de contos Marina Colasanti
Encerramento.

Local: Auditório John Henry Newman (Biblioteca) e Tomas Morus (CTCH)


Mostra paralela: Salas temáticas:
Língua estrangeira e Cultura do Paraná.

sábado, 29 de agosto de 2009

I Bienal do Livro de Curitiba


Seminários, debates, tarde de autógrafos e muito mais. Isso é o que o público poderá esperar da primeira Bienal do Livro de Curitiba, evento que acontece de 27 de agosto a 4 de setembro no Expo Unimed Curitiba, na Universidade Positivo.
Os organizadores esperam reunir durante os nove dias de evento aproximadamente 200 mil pessoas.
Ao contrário das bienais que ocorrem em outras capitais, como Recife, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, o evento em Curitiba promete ser de um caráter mais voltado para questões da cultura, educação e meio ambiente, conforme explica o curador da bienal, o dramaturgo Alcione Araújo, que fala ainda da importância para Curitiba de sediar uma bienal:
"Bienal do livro é importante para qualquer cidade brasileira. Curitiba, por ser uma capital importante e com um público bem crítico, não poderia ficar de fora disso."
O mais interessante da bienal curitibana é que ela é focada em um tema, algo inédito no País, enquanto as outras, com ares de superprodução, são mais focadas em vender livros e promover tarde de autógrafos.
O que vale mesmo é o prestígio do público. Se você gosta de livros, daquele cheiro que só eles tem, daquele manuseio que só eles proporcionam e das portas e janelas que só um livro sabe abrir na sua mente, você não pode deixar de ir.
Aproveite essa oportunidade única, aqui na nossa cidade. A próxima só em 2011.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Solidão ...


Título "Solitude"
Pintura de Jean Jacques Henner retratando a solidão.
Solidão é um sentimento onde uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento.
A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa.
Alguém que se sente solitário pode sentir dificuldades em estabelecer contato com outras pessoas.
Pior ainda, pode sentir dificuldade em encontrar a si mesmo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Bolsa Funarte / Prêmio Sesc de Literatura

Olá,

Inscrições abertas (até o dia 13) para Bolsa Funarte de Criação Literária. Maiores informações aqui.

Inscrições abertas até 30 de setembro para o Prêmio Sesc de Literatura 2009. Informações aqui.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Para não perdermos tempo, tenho um tema a sugerir para a nossa possível reunião: SOLIDÃO. Alguém tem alguma coisa contra?
Aqui tem um texto sobre o assunto.
Aí é só marcar uma data para compartilharmos nossas criações!

Abraço a todos.

domingo, 2 de agosto de 2009

Dois contos e um poema

Oi, gente:
Conforme prometi para a Rita, aí estão os dois contos que enviei para o Newton Sampaio. Mais embaixo, tem o poema do Ferreira Gullar que eu mais gosto, "Coito" (citado naquele meu texto erótico). Aguardo comentários!

O ídolo

A minha mãe era uma mulher linda.
Nãão, não é assim que pretendo começar a escrever sobre ela. Muito óbvio.
Mesmo assim, era a mais pura verdade. Tinha longos cabelos ruivos, olhos pequenos e azul-claros, maçãs do rosto salientes, e mesmo as sardas e os óculos lhe ficavam muito bem. Sempre teve bom gosto para se maquiar. Usava roupas de cores vivas, principalmente vestidos compridos. Os cabelos sempre soltos atrás, como uma aura, completavam o seu ar de musa. E o que dizer do sorriso, que deixava qualquer um doido? E a presença majestosa que sempre teve, desde que me entendo por gente? Foi por isso, aliás, que foi contratada como atriz por uma emissora de TV. E também foi por tudo isso que teve tantos problemas com corações partidos.
Viúva, sustentou a mim e a meu irmão, Chico, com seu trabalho de atriz, mesmo não atuando excepcionalmente bem. Fez novelas na Manchete, na Excelsior e depois na Globo, onde ficou até se aposentar, aos 60 anos, depois que enjoou de fazer novelas e que já havia conseguido amealhar uma boa quantia em dinheiro.
Antes que alguém pergunte, sim, desde crianças eu e o Chico precisamos nos acostumar com o fato de a nossa mãe passar dias inteiros fora, às vezes só chegando quando estávamos dormindo. Tivemos que nos virar desde o começo, pois a nossa empregada só limpava a casa. Quem comprava comida, cozinhava, pagava as contas, dentre outros afazeres, era a gente. E desde o início nos acostumamos a estudar e a ser bons alunos, para não levar na agenda as famigeradas anotações que exigiam a assinatura de um dos pais.
Tudo transcorreu muito bem durante a nossa infância e parte da nossa adolescência, apesar de uma carência que de vez em quando nos cutucava e que nos esforçávamos para esquecer. Acontece que durante um tempo, durante uns cinco anos, ela foi quase que completamente esquecida pela televisão. Só fazia pontas nas novelas. Recebia, mas já não era tanto assim. Passou a ficar mais em casa, e foi então que eu e ela descobrimos que não convivíamos bem, pois brigávamos quase todo dia feito cachorro grande.
O motivo era basicamente um: a minha aparência! Naquela época, eu já era uma adolescente querendo construir a minha imagem. Através de amigos, descobri o movimento punk, e passei a me identificar com o visual deles: botei piercing, fiz tatuagem, usava só preto, pintei o cabelo de verde, cortei no estilo moicano, e ainda passei a usar pesadas correntes e crucifixos prateados, o que completava em mim um ar deprimente. Mas estava entusiasmada com esse novo estilo, e a minha mãe não foi capaz de entender isso.
A qualquer momento, apesar do dinheiro mais curto, me dava vestidos como os que ela usava, horrorosamente caretas na minha opinião de então. Sempre que podia, me dava joias delicadas. Quando eu ia ao cabeleireiro, só faltava ir comigo para convencer o rapaz a fazer o meu cabelo da forma como ela queria. Algumas vezes, tentou me maquiar como ela se maquiava. E ainda me deixava louca da vida com discursos como “de mulher a sociedade exige doçura e elegância” e “estou fazendo isso para o seu próprio bem, para que depois você não venha chorar dizendo que estão caçoando de você, ou que te agrediram na rua”. A minha vida de punk ela simplesmente ignorava. Nem sei como eu conseguia sair à noite com os meus amigos. O fato é que ela não se interessava em conhecê-los, em ouvir música punk para ver se gostava, e muito menos conhecer o movimento em si, porque ela mesma concordaria com algumas ideias. Mas a aparência do grupo estragava de maneira irremediável tudo o que ele poderia oferecer de bom a quem quer que fosse.
Assim foi indo a nossa vida. O Chico não se intrometia nas nossas discussões – já tinha sua própria vida, ele e a namorada estavam curtindo a maior paixão. Apesar de não terem ido morar juntos, ele vivia na casa dela, só aparecendo na nossa para dormir. Portanto, ele não estava quando estourou a pior briga entre nós duas. Ela estava insistindo para que eu usasse um lindo brinco com imitação de pérola, presente intocado de alguns meses antes. Começou a discussão, que não lembro exatamente como se desenvolveu. Só sei que algum tempo depois comecei a ironizar e pegar pesado:
- Você sempre com essa história de querer me proteger da sociedade, né? Oh, desculpe! Desculpe por eu ser burra demais para entender que é você que conhece o caminho da felicidade, e está me levando pra lá de graça! Acontece que eu sou feliz assim, sendo punk!
- Você acha que eu gosto de te ver com esse visual horrível, deprimente? Você tinha que ser mais vaidosa, procurar ser mais feminina! Você é tão linda, minha filha! Não sei pra que tudo isso, andar tão horrorosa desse jeito pela rua! Quantas meninas não gostariam de ser lindas como você? E você, que tem isso, desperdiça! Nunca vi uma coisa dessas! Você é uma bonequinha, filha!
Era verdade, mas só consigo enxergar isso hoje. Herdei os cabelos dela e os olhos cor-de-mel do meu pai. Tinha uma cara branca de meia-lua e uma boca fina, mas bem bonita. E já era meio gordinha, o que combinava muito bem com as minhas bochechas grandes. Enfim, era uma gracinha, mas sem a graciosidade de que ela dispunha tão naturalmente no corpo, aquela segurança de mulher feita que, quando quer, sabe ser desejável. Isso foi o que mais invejei nela, durante a minha vida inteira. Talvez por isso tenha decidido me afastar dela e criar o meu próprio estilo, um estilo em que essa imponência, esse refinamento cobrados por ela fossem cafonas. Se continuasse no mundo dela, seria no máximo a fofucha da mamãe. E eu já tinha passado da idade disso também.
- Claro, claro! Eu tenho que ser a tua bonequinha, que você pode enfeitar como quiser, que nem eu fazia com as minhas bonecas quando era criança! Acontece, mãe, que eu cresci, e não sou mais a tua boneca! Será que você não percebeu isso ainda? Olha, por que você não arruma uma boneca de verdade, só pra você enfeitar? Aí você enfeita com as coisas que você me deu, transforma ela num ídolo e me deixa em paz!
Naquela noite, devolvi tudo o que tinha ganhado dela, ficando só com os meus acessórios punk.
Passaram-se os anos. Ela atuou em mais algumas novelas, eu e Chico nos formamos e saímos de casa, casamos e tivemos filhos. Falando do meu relacionamento com a minha mãe, em primeiro lugar nunca mais tocamos no assunto da minha aparência. É claro que ela continuava a me amar e a torcer por mim. Mas também perdemos para sempre algo da naturalidade. Esse foi o preço da minha independência. Nunca deixei de ter a consciência de que algo nos faltava, porém não sabia o que era, e procurava esquecer esse sentimento. E ela foi para o túmulo levando esse problema mal-resolvido entre nós.
Depois do enterro, eu e Chico fomos separar as coisas dela para doar. Quando chegamos à parte do armário que guardava as roupas de cama, ao puxar um cobertor ouvimos o barulho de algo que caía para o fundo, quase um corpo. E ficou descoberto um pedaço de vestido que, no entanto, estava vestindo algo! Mais que depressa, tiramos tudo o que tinha naquele armário e vimos... uma boneca! Era muito bonita, dessas de plástico, e tinha sessenta centímetros. Pelo jeito estava de pé, mas muito bem escondida por roupas de cama. Como a minha mãe tinha conseguido manter a boneca deste jeito é um mistério para nós dois até hoje.
Mas isso não é nada. Depois que conseguimos tirá-la do armário é que vieram as verdadeiras surpresas. Ela era tão idêntica a mim quanto uma boneca de plástico pode ser! Por isso, e pelo fato de não ser um bebê, e sim uma mocinha, que desde o primeiro momento me ocorreu que ela não foi simplesmente comprada, mas encomendada, embora eu não soubesse que a minha mãe conhecia algum fabricante desse tipo de brinquedo. Estava coberta de joias, usava um belo vestidinho ocre com detalhes brancos e um penteado impecável! Essas foram as primeiras coisas em que reparei, depois fui me surpreendendo mais e mais.
De repente, olhando para os sapatos dela, o Chico me alertou que tinha um papel grudado na sola. Virando-a, descobri uma coisa estranhíssima: uma data, provavelmente de compra, ou, no caso de encomenda, o dia em que ela chegou – agora me sinto tentada a imaginar que fosse de... nascimento! Por quê? Porque o ano, lembrei depois, era o mesmo em que eu tinha mandado a minha mãe arrumar uma boneca! Além disso, ela se chamava Priscila, assim como eu! Como estava sem um grão de poeira (parecia novíssima, rosada e brilhante, apesar dos quase vinte anos que já se tinham passado), suponho que a minha mãe a tirava muito frequentemente desse esconderijo, mas não só para limpar. Acho que também mudava a roupa e o penteado. Encontramos numa gaveta da penteadeira as escovinhas, roupinhas, sapatinhos (todos estes com a mesma inscrição do sapatinho que ela estava usando!) e uns apetrechos para fazer penteado em boneca. As joias, por outro lado, estavam absolutamente todas depositadas nela, como se ela fosse um ídolo ou uma daquelas rainhas lendárias da Bíblia. Dentre as joias, relembrei algumas que tinha ganhado de presente, e das quais ela provavelmente mandara fazer réplicas. Mas havia algumas que eu não conhecia, com certeza mais recentes.
Seria possível que a minha mãe andasse comprando ou encomendando joias para uma boneca durante todo aquele tempo? Aliás, a quem ela encomendara a boneca e as outras coisas daquele mundinho mágico? Será que os vestidos e sapatos também eram réplicas? E a dúvida mais atroz de todas: será que ela brincava de mamãe e filhinha com aquela boneca?
Fim.

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Performance

Ele é conduzido até a bela e atraente mulher de cabelos negros presos num coque. Está nua, enrolada num cobertor e deitada numa cama de casal, sob uma luz vinda de cima, pirâmide amarelo-âmbar, da mesma cor dos travesseiros, lençol e coberta. Acena-lhe com um sorriso sedutor no rosto. Não precisa de palavras, e nem mesmo descobrir o corpo desnudo; mesmo a cama, por incrível que pareça, é desnecessária para dizer o que é tudo aquilo. Basta o sorriso.
Quando ele se aproxima do lado esquerdo da cama, ela tem que caminhar até ele, pois está deitada do lado direito. Ele presta atenção nos seios pequeninos e nas curvas arredondadas dela. Sem uma palavra, a moça tira do corpo dele a camisa listrada. Apesar de desconfiado, por alguma razão ele permite aquela invasão. Sabendo que a próxima peça a abandoná-lo será a calça jeans, ele chega a tirar o cinto, mas é ela quem acaba desabotoando, tirando das pernas e ainda erguendo os pés para tirá-la definitivamente do corpo. Há nisso um silêncio quase fúnebre, de ritual sagrado. Parece, por um momento, que esse episódio jamais poderá ser associado a sexo. Mesmo assim, ele defende com as duas mãos a cueca amarela. Ela retoma seu lugar na cama, satisfeita com o que já fizera.
Ela se mete na cama e olha para ele, como que esperando algo. Ele permanece de pé, devolvendo o olhar, espantado, sabendo e não sabendo o que ela quer. Ela precisa se ajoelhar e, puxando com força as mãos dele, enfrentando sua resistência, acaba levando-o para a cama. Ele pensa em se proteger usando o cobertor. Mas ela não deixa, rola até ficar em cima de boa parte do cobertor, sempre olhando para o homem a seu lado e forçando o corpo nele.
O olhar é o primeiro grande segredo dela para controlá-lo efetivamente. Digo “controlar” porque até então, por ainda estar preso na desconfiança, ele não ajuda muito. Quando põe os olhos dentro dos dele pela primeira vez, dá aos seus tanta ternura, tanta admiração e tanta submissão, que chega a ocorrer este pensamento a ele: “Será que essa mulher está apaixonada por mim?” E fica petrificado, deixando as coisas seguirem seu rumo. Até porque, muito rapidamente, ele imagina que ela ficaria seriamente magoada diante de outra recusa. E por último fala o macho dentro dele: que espécie de homem sou eu para deixar uma mulher bonita dessas ardendo de desejo e não fazer nada? A moça realmente não está dentro dos atuais padrões de beleza, mas é uma deusa.
Essa ideia de mágoa está cada vez ganhando mais contornos de realidade, à medida em que vão acontecendo os outros avanços dela. Sempre com a mesma expressão doce no rosto, que só muda para intensificar mais esse sentimento, ela se põe a acariciar os cabelos laranja dele, cortados à escovinha. Mete os dedos neles e penteia-os para cima. Depois acaricia amorosamente a cabeça dele com as pontas dos dedos. De repente, chega ao rosto. Novamente com os dedos, vai percorrendo as têmporas e as bochechas durante algum tempo, para frente e para trás, como que desenhando-os com todo o cuidado para conservá-los na memória. Então vai ao meio do rosto, acarinhando do mesmo jeito a pele, mas agora de forma um pouco menos linear e mais espalhada, como que usando os dedos para pintar o rosto dele. Durante esses carinhos, ele sente que sua pele está áspera por causa dos quase invisíveis pelos da barba. Felizmente, ela parece não se importar com isso. Para finalizar a tão amada face, ela traça os olhos, o nariz e a boca com a unha, muito levemente, até convencer-se de que seu desenho está perfeito.
Quando isso acontece, ela avança até o busto e a barriga. De novo contorna as laterais do corpo e depois “pinta” dentro dessas linhas. Sempre como amante apaixonada, mas também cada vez mais como artista. Contudo, para o gosto dele, ela está mais para mãe ou irmã dedicada do que para amante apaixonada. Ele até poderia dormir, como que acalentado por uma canção de ninar, só não faz isso porque está preso ao olhar carinhoso dela. Mas essa impressão dura bem pouco tempo.
De repente, jogando o corpo impetuosamente, alcança a boca do amante e beija-a longamente, num ósculo de perder o fôlego. O olhar modificara-se completamente: agora é de pura volúpia. Acidentalmente (ou para beijá-lo melhor?), a moça coloca-se em cima dele. Instintivamente e impulsivamente, ele rola os corpos para ficar em cima da mulher: agora quer fazer sexo. Ela, porém, corta essa possibilidade ao colocar-se de novo sobre ele. Tudo isso durante o beijo. Quando as bocas se separam, ela, enlouquecida de paixão, cobre-lhe o rosto de beijos, deixando-o todo marcado de batom rosa-choque. Em seguida, parte para o tronco com os mesmos beijos urgentes, e ao voltar para a cara (e para cima dele) lambe-a inteirinha, a parte de que ele menos gosta. Quando acaba de lambê-lo, outra vez ele precisa de um tempo para se acostumar com os novos gestos dela.
Porque agora ela começa a se posicionar de diferentes formas no espaço do corpo dele, tentando caber ali de outras maneiras. Primeiro, qual uma sereia, levanta o tronco por uns momentos, todo o resto do corpo cobrindo com exatidão o homem debaixo dela. Depois, de costas para ele, continua com a mesma posição. É então que, como que tomada de uma inspiração súbita, deixa só a cabeça de fora do enquadramento imposto por ele e esfrega gostosamente as costas nele, como que querendo retomar para si os beijos ali espalhados. O perfume dela, misturado já com um certo suor, torna essa mulher cada vez mais irresistível, e esse último gesto acaba sendo a gota d’água. O desejo já está prontinho para agir, só falta ele livrar-se da cueca amarela. Quando ela percebe que a força dele aumenta por causa disso, estranhamente se interrompe e, olhando para além da cama, faz um sinal de “Pare” a alguém que por alguns instantes só ela vê. Enquanto se veste rapidamente, entrega as roupas dele e acaba tendo que ajudá-lo a se vestir, pois ele está bobo feito um zumbi. Finalmente despede-se, beijando-o nas duas faces, agradecendo a cooperação e pedindo desculpas por qualquer coisa. Faz outro sinal para o mesmo ponto.
Duas portas brancas abrem-se lentamente, como se tivessem vida própria. Ele vai andando para fora delas, aturdido. Agora lembra que está no Museu de Arte Moderna, em plena Bienal de São Paulo. Ela, a artista, já saiu por uma porta dos fundos antes que os dois portões para ele fossem abertos. Caminhando daquele jeito, sentindo-se muito estranho, encara os gritos, vaias e gracinhas de uma pequena multidão apinhada em frente às portas. Muitos estão escandalizados. Só então ele percebe que há uma televisão afixada em cada porta. Foi visto num momento íntimo por toda aquela gente! Coberto de vergonha e raiva e sem poder encarar aquelas pessoas, corre o olhar e descobre uma grande placa com o nome da performer: Ondine Cristina Coelho. Embaixo: performance misteriosa. Então era aquilo a tal da performance!
No caminho para casa, xinga Ondine mentalmente de tudo quanto é nome. Contudo, ao chegar e tirar a camisa, nota que os beijos e o perfume dela continuam firmes no seu corpo. Impossível negar: aquela mulher o possuíra como nenhuma outra o fizera, nem mesmo sua primeira namorada. Sente como se tivesse acabado de perder uma virgindade que nem sabia que tinha.
Fim.
Data: 5 de outubro de 2008.

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"Coito (Ferreira Gullar)

Todos os movimentos
do amor
são noturnos
mesmo quando praticados
à luz do dia.

Vem de ti o sinal
no cheiro ou no tato
que faz acordar o bicho
em seu fosso:
na treva, lento
se desenrola
e desliza
em direção ao teu sorriso

Hipnotiza-te
com seu guizo
envolve-te
em seus anéis
corredios
beija-te
a boca em flor
e por baixo
com seu esporão
te fende te fode

e se fundem
no gozo

depois
desenfia-se de ti

a teu lado
na cama
recupero minha forma usual"

sábado, 1 de agosto de 2009

Conheçam a casa das mil portas aqui.
Abraço a todos, foi ótimo passar os sábados com vcs!
Minha sombra segue passos solitários condenados a vagar pelos acasos da eternidade.