quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Entrevista com Ferreira Gullar sobre poesia no site da Bravo!
Confiram aqui!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O céu é o lugar dos poetas

"Que o nome querido já nos soa como os outros".
Manuel Bandeira.

Não sei por que, mas hoje quis contemplar o céu estrelado. Um céu como o de todas as noites, com Lua e coberto de estrelas. Mas ele me atrai de maneira inexplicável, como um velho amigo querendo me contar um segredo, porém aumentando o suspense para me deixar curiosa.
De repente vejo sem esforço: há uma bela Lua na noite. O mais incrível é que sua prata está um tanto embaçada por uma nuvem vaporosa, que existe apenas porque atrapalha um pouco o esplendor da luz. Que visão magnífica! Parece que a Lua, transformada em pérola, está afogada num mar em pleno céu, esperando que algum aventureiro vá resgatá-la para permitir a ela exibir todo o seu brilho para a platéia de seres humanos para quem agora é noite.
Engraçado é que de alguma forma sinto que poderia fazer esse resgate, mesmo não podendo fisicamente voar para o céu e agarrar a Lua e lutar contra aquela nuvem. As palavras e imagens me vêm à cabeça num turbilhão. Aquela Lua presa naquela gaze feita camisa-de-força podia ser tudo e podia ser nada, podia também ser apenas uma Lua atrás de uma nuvem.
Estou me sentindo uma argonauta, e então vejo: foi aquela mesma Lua, aquela mesma nuvem, que um dia inspiraram Olavo Bilac, Cruz e Sousa e tantos outros. Todos eles tinham seguido esse caminho um dia, como um destino. Posso vê-los ali, naquela Lua e naquela nuvem, tendo as estrelas como cordiais irmãs, de brilho e de proximidade.
Entre eles vejo o meu amigo poeta, e isso me dá vontade de rir. Esse meu estado fora do normal só pode ser obra dele, de tanto ele me injetar poesia. O que me admira é ele continuar fazendo isso depois de morto. (Decerto que não pelas palavras dele, pois não voltei a lê-lo depois que morreu...) Vai ver porque ele era muito bom poeta, e melhor ainda ser humano. Por tudo isso, não quero deletá-lo nem da minha mente, nem do meu coração. Que o nome querido dele não me soe como os outros, como diria Manuel Bandeira, outro que vejo na Lua e na nuvem. Se isso acontecer algum dia, acho que terei perdido aquela Lua e aquela nuvem. Terei perdido algo de grande valor.

- Bem, gente - finalizou Isabela, após terminar de ler esse seu depoimento para o público da oficina literária da qual estava participando havia apenas dois dias. - ,tentei aí descrever e narrar esse momento, mas ao mesmo tempo que fosse de uma forma instigante, que você terminasse de ler e se sentisse enlevado, surpreendido, provocado ou até perguntasse "O que é isso?" e fosse dormir com essa interrogação na cabeça. Queria, por exemplo, saber manejar palavras complexas em frases lindíssimas, como Cruz e Sousa e Carlos Drummond de Andrade, sabe, extraindo coisas das palavras mais simples que ninguém nunca viu antes. Não tenho a menor idéia se consegui algum desses meus objetivos, ou se estou aqui fazendo papel de palhaça, me julgando escritora ou poetisa, e no fim vocês já viram isso da mesma forma, em milhares de poetas diferentes, pois o que não falta nesse mundo é poeta e escritor, ou gente que se intitula assim. Nem o tema é original...
Fim.
Data: 7 de novembro de 2009.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quinta estação






tão só sozinho
isolado da alma
afoga razão




autor: Fábio Antonio Filipini






Referência sobre a inspiração:

HAICAI

Pequeno poema com uma métrica de três versos, de 5-7-5 sílabas, que surgiu no Japão no século 16.
No século 20 disseminou-se por todo o mundo. Sua maior expressão é Matsuo Bashô (1644-1694), poeta japonês cirador do mais famoso de todos os haicais: “velho lago / mergulha a rã / fragor d’água”.
Em português aceita-se que a contagem das sílabas de 17 sílabas não seja seguida à risca, não devendo, no entanto, ultrapassar um máximo de 21 sílabas.
Também não é necessário haver rima dos versos. O haicai deve ter um “kigô”, ou seja, uma referência a uma estação do ano, elemento básico de sua ligação com a natureza. O haicai passa-se no presente, tem um olhar de cinema que mostra uma imagem e nos permite ver seu movimento, sem discurso opinativo do autor.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saída

Texto inspirado na fotografia: Chris Rain, This is not exit
Saudade
da saudade
momentos de amor...
de ter a quem amar.

Estranho
é ser
tão só sozinho...
pode sufocar.

Gente que é gente
precisa de amor...
não dor,
saída


Postado por: Fábio Antonio Filipini

Paraíso

Fotografia: Alfredo Yazbek, Barco coletivo

O paraíso, sabe-se lá onde fica!

Mas de uma coisa tenho certeza, construímos o paraíso ao longo da vida.

O paraíso se monta com todos os momentos bons.

Daqueles em que falta ar de tanta emoção...

Daqueles onde os olhos se enchem de água por felicidade...

Daqueles em que ficamos frouxos de tanto rir...

Agora?

Em meu paraíso mais um ano se passa e você habita nele.

Hoje?

Espero contribuir com o seu paraíso, e quando for partir o leve na bagagem.

Ao partir não se vai para o vazio, mudamos para o paraíso.

No paraíso não se fica só.

Postado por: Fábio Antonio Filipini

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Momentos insolúveis
Condenam a alma ao labirinto habitual
Paredes intransponíveis
Guardam um tempo secreto
Real num instante
Em outro, apenas vulto no espelho.

(imagem: www.zonezero.com)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Piano e coração (Cruz e Sousa)

O piano, o piano e o coração.
Ó melodias do coração, ó harmonias do piano.
Chopin, Gounod, Métra, Strauss, Beethoven, Gottschalk, constelação gloriosa de boêmios de ouro!...
Quando o piano musicaliza, caracteriza, espiritualiza as longas escalas cromáticas, os adoráveis "allegros", os interessantes "pizzicatos", quem fala primeiro que os cérebros artísticos, é o coração.
Ele canta mais que todos os órgãos humanos.
O coração é o pulso do cérebro artístico.
Pela temperatura e o grau de sentimento de um, o músico estabelece a proporção do outro.
Um dirige, outro executa.
Um tem a fórmula, outro funciona.
Um é o oxigênio, outro o carvão.
Um faz o relâmpago, outro produz o raio.
Coração e cérebro aliam-se, homogeneizam-se.
Assim o piano, eternamente assim.
O coração é a luta, as grandes tempestades desoladoras, varadas de cóleras surdas de vendavais gargalhantes e intérminos, de frios que estortegam, enregelando as noites soturnas das trevas compridas e absolutas; o coração é a maciosidade dos linhos, a candidez consoladora dos luares estrelados, a fluidez elétrica dos perfumes excitantes, as expansivíssimas alegrias, castamente sonoras e sonoramente castas.
O coração ruge e vibra.
Assim o piano.
Cada palpitação do piano, é uma fibra do coração, que bate.
Tem os mesmos triunfos, os mesmos humorismos fúnebres, as mesmas impotências e coruscações, o piano.
Chora e canta, ri e soluça.
Quanta vez o artista não canta, não ri e chora e soluça com o piano.
Dizei à sensibilidade que emudeça.
À sombra que se subdivida, partícula por partícula, pela própria sombra.
O piano, como o coração, representa um ser complexo, com os elementos necessários, com os nervos, com os músculos de vitalidade dispostos, preparados, desenvolvidos, de forma a infiltrar nos demais seres, a seiva psíquica, a sangüinidade simpática da arte.
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Esta foi em homenagem à Rita, pela crônica "Música".
Data: 12/12/09.

Abismo

Não posso mover meus passos por este atroz labirinto.
Não posso mover meus passos por este atroz.
Não posso mover meus passos por este.
Não posso mover meus passos por.
Não posso mover meus passos.
Não posso mover meus.
Não posso mover.
Não posso.
Não.
Não posso.
Não posso mover.
Não posso mover meus.
Não posso mover meus passos.
Não posso mover meus passos por.
Não posso mover meus passos por este.
Não posso mover meus passos por este atroz.
Não posso mover meus passos por este atroz labirinto.

"Não posso mover meus passos por este atroz labirinto": frase de Cecília Meireles, em "O Romanceiro da Inconfidência".
Data: 18 de novembro de 2009.

Conforme eu tinha dito no encontro, me inspirei numa letra do Caetano Veloso e Gilberto Gil em que eles faziam exatamente esse jogo com as palavras. Eis a letra:

Batmacumba
batmacumbaieiê batmacumbaobá
batmacumbaieiê batmacumbao
batmacumbaieiê batmacumba
batmacumbaieiê batmacum
batmacumbaieiê batman
batmacumbaieiê bat
batmacumbaieiê ba
batmacumbaieiê
batmacumbaie
batmacumba
batmacum
batman
bat
ba
bat
batman
batmacum
batmacumba
batmacumbaie
batmacumbaieiê
batmacumbaieiê ba
batmacumbaieiê bat
batmacumbaieiê batman
batmacumbaieiê batmacum
batmacumbaieiê batmacumba
batmacumbaieiê batmacumbao
batmacumbaieiê batmacumbaobá