segunda-feira, 26 de abril de 2010

"A Valsa" - Casimiro de Abreu


Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... — Eu vi!... Valsavas: — Teus belos Cabelos, Já soltos, Revoltos, Saltavam,
Voavam, Brincavam No colo Que é meu; E os olhos Escuros Tão puros, Os olhos Perjuros Volvias,
Tremias, Sorrias, P'ra outro Não eu! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... — Eu vi!... Meu Deus! Eras bela Donzela,
Valsando, Sorrindo, Fugindo, Qual silfo Risonho Que em sonho Nos vem! Mas esse Sorriso Tão liso Que tinhas Nos lábios De rosa, Formosa, Tu davas, Mandavas A quem ?! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas,.. — Eu vi!... Calado, Sózinho, Mesquinho, Em zelos Ardendo, Eu vi-te Correndo Tão falsa
Na valsa Veloz! Eu triste Vi tudo! Mas mudo Não tive Nas galas Das salas, Nem falas, Nem cantos, Nem prantos, Nem voz! Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!... — Não negues Não mintas... — Eu vi! Na valsa Cansaste; Ficaste Prostrada, Turbada! Pensavas, Cismavas, E estavas Tão pálida Então; Qual pálida Rosa Mimosa
No vale Do vento Cruento Batida, Caída Sem vida. No chão! Quem dera Que sintas As dores
De amores Que louco Senti! Quem dera Que sintas!... — Não negues, Não mintas... Eu vi!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Auto-retrato

Vincent Van Gogh, Auto-retrato, 1889.

Ao entrar naquele ambiente logo pude ver um reflexo subliminar. Inicia sério, parecendo requerer distância, sem muita conversa. Um que de reservado, por vezes de arrogância. Pelos traços de seu corpo tudo indica um perfeccionista: cabelo, roupas, óculos,... Os reflexos são admiráveis, digamos que à primeira vista um bom partido. Os olhos têm particularidades, implicam num leve tom de tristeza. Requer ser decantado, dar oxigênio para respirar. Evoluir. Não meses, mas em horas, com a troca de poucas palavras é bom ouvinte, muito amável. Honestidade o permeia, é o orgulho de tanta bondade. Ainda persiste um amargor, porém nada que tire o equilíbrio. Ao ser questionado, logo se dá a perceber que não aceita opinião dos outros. Críticas, nem pensar. Apesar de querido, como um amante, ainda assim pede distanciamento. Estranho, para um poço de simpatia. Acende-se uma luz mais forte, e vejo então os contornos do espelho que me denuncia...

Postado por Fábio Antonio Filipini