sábado, 30 de maio de 2009

O Mito da Descida da Deusa

Comentamos sobre isso na aula (sete portais/sete véus), quando falamos de Salomé e lembrei do texto que segue abaixo:

Dea, nossa Dama e Deusa, soluciona todos os mistérios, até mesmo o mistério da Morte. Assim sendo, ela partiu rumo ao Submundo em sua nau, pelo Sagrado Rio da Descida. A seguir ela se deparou com o primeiro dos sete portais do Submundo. E seu guardião a desafiou, exigindo uma de suas vestes para que passasse, pois nada pode ser dado sem que algo seja oferecido em troca. E a cada um dos portais, a deusa teve de pagar o preço da passagem, pois os Guardiães assim lhe diziam: "Despe-te de tuas vestes, e livra-te de tuas jóias, pois não há nada que possas trazer a nossos domínios".

Assim, Dea cedeu suas jóias e sua vestimenta aos Guardiães, e foi conduzida, como um ser vivo que busca ingresso no Reino dos Mortos e dos Poderosos. No primeiro portal ela deixou seu cetro, no segundo sua coroa, no terceiro seu colar, no quarto seu anel, no quinto sua guirlanda, no sexto suas sandálias, e no sétimo seu vestido. Dea permaneceu nua e foi apresentada perante Dis, e tal era sua beleza que ele próprio se ajoelhou quando ela entrou. Depondo sua espada e sua coroa aos pés dela, disse: "Abençoados são teus pés, pois te trouxeram por esta senda". Ele então se ergueu e disse a Dea: "Fica comigo, eu imploro, e deixa teu coração ser por mim tocado".

E Dea respondeu a Dis: "Mas eu não te amo, pois por que fazes com que todas as coisas que amo e com as quais me delicio venham a fenecer e morrer?"

"Minha Senhora", respondeu Dis, "é contra a idade e o destino que falas. Não tenho poder, pois a idade faz com que tudo pereça, mas quando os homens morrem ao fim de seu tempo lhes dou repouso, paz e força. Por algum tempo eles habitam com a Lua, e com os espíritos da Lua; então podem retornar ao reino dos vivos. Mas és tão adorável e te peço para que não retornes, mas que vivas cá comigo".

Ao que ela respondeu: "Não, pois não te amo". Então Dis disse: "Se te recusas a me abraçar, deves prostrar-te perante o açoite da Morte". Respondeu a Deusa: "Se assim é, assim seja, tanto melhor!" Dea então ajoelhou-se em submissão perante a mão da Morte, e esta açoitou-a tão levemente que ela gritou: "Reconheço tua dor, a dor do amor".

Dis ergueu-a e disse: "És abençoada, minha Rainha e minha Dama". A seguir ele lhe deu cinco beijos de iniciação, dizendo: "Somente assim podes ambicionar sabedoria e prazer".

E ele ensinou-lhe todos os seus mistérios, e lhe deu o colar que é círculo de renascimento. E ela lhe transmitiu todos os seus mistérios, do cálice sagrado que é o caldeirão do renascimento. Eles se amaram e se uniram um ao outro, e por um período Dea viveu nos domínios de Dis.

Pois três são os mistérios na vida do Homem: Sexo, Nascimento e Morte (e o amor controla todos). Para atingir o amor, devemos retornar ao mesmo tempo e local dos que amaram antes. E devemos encontrar, reconhecer, lembrar e amá-los novamente. Mas para que possamos renascer devemos morrer e ser preparados para um novo corpo. E para morrer devemos nascer, mas sem amor não podemos nascer entre os nossos semelhantes.

Mas a nossa Deusa tende a favorecer o amor, o prazer e a alegria. Ela protege e cuida de suas crianças ocultas nesta vida e na próxima. Na morte ela revela o caminho que leva à comunhão com ela, e na vida ensina a magia do mistério do Círculo (existente entre os mundos dos homens e dos deuses).

da Tradição Aridiana,
Raven Grimassi, Way of the Strega

Referência:
GRIMASSI, Raven. Os mistérios wiccanos: antigas origens e ensinamentos. 3 ed. São Paulo: Gaia, 2002.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Oficinas de Cinema

Tem um projeto chamado "Olho Vivo" que oferece várias oficinas relacionadas ao audiovisual.

Maiores informações:
www.projetoolhovivo.com.br

quarta-feira, 27 de maio de 2009

No blog do Ivan Justen Santana http://ossurtado.blogspot.com/2009/04/para-quem-ainda-acha-que-letra-de.html para quem ainda acha que letra de música não é poesia...

domingo, 24 de maio de 2009

Animais dos Espelhos

Em um dos volumes das Cartas Edificantes e Curiosas que aparecem em Paris durante a primeira metade do século XVIII, o padre Zallinger, da Companhia de Jesus, planejou um estudo das ilusões e erros do povo de Cantão; em um censo preliminar anotou que o peixe era um ser fugitivo e resplandecente que ninguém havia tocado, mas que muitos alegavam ter visto no fundo dos espelhos. O padre Zallinger morreu em 1736 e o trabalho iniciado por sua pena ficou inacabado; cento e cinqüenta anos depois, Herbert Allen Giles assumiu a tarefa interrompida.

Segundo Giles, a crença no peixe é parte de um mito mais amplo, que se refere à época legendária do Imperador Amarelo.

Naquele tempo, o mundo dos espelhos e o mundo dos homens não estavam, como agora, incomunicáveis. Eram, além disso, muito diferentes; não coincidiam nem os seres nem as cores nem as formas. Ambos os reinos, o especular e o humano, viviam em paz; entrava-se e saía-se pelos espelhos. Uma noite, a gente do espelho invadiu a terra. Sua força era grande, porém, ao fim de sangrentas batalhas, as artes mágicas do Imperador Amarelo prevaleceram. Este rechaçou os invasores, encarcerou-os nos espelhos e lhes impôs a tarefa de repetir, como em uma espécie de sonho, todos os atos dos homens. Privou-os de sua força e de sua figura e reduziu-os a meros reflexos servis. Um dia, entretanto, livrar-se-ão dessa mágica letargia.

O primeiro a despertar será o peixe. No fundo do espelho perceberemos uma linha muito tênue e a cor dessa linha não se parecerá com nenhuma outra. Depois, irão despertando as outras formas. Aos poucos diferirão de nós, aos poucos deixarão de nos imitar. Romperão as barreiras de vidro ou de metal e dessa vez não serão vencidas. Junto às criaturas dos espelhos combaterão as criaturas da água.

No Yunnan não se fala do peixe, e sim do tigre do espelho. Outros acreditam que antes da invasão ouviremos do fundo dos espelhos o rumor das armas.

Referência:
BORGES, Jorge Luis; GUERRERO, Margarita. O livro dos seres imaginários. Tradução de Carmen Vera Cirne Lima. 8 ed. São Paulo: Globo, 2000.
Acho que pessoas com sensibilidade artística têm certas necessidades contrárias ao lado prático da vida que muitas vezes não são compreendidas gerando conflitos nos relacionamentos com os outros que acham isso uma bobagem. Nossas conversas na aula me lembraram de um livro que eu li há mais ou menos 2 anos atrás, "Cartas a um jovem poeta" e gostaria de sugeri-lo como leitura para futuros escritores. Segue aí um trecho:

"Existe apenas uma solidão, e ela é grande, nada fácil de suportar. Acabam chegando as horas em que quase todos gostariam de trocá-la por uma união qualquer, por mais banal e sem valor que seja [...] No entanto, talvez sejam justamente essas as horas em que a solidão cresce, pois seu crescimento é doloroso como o crescimento de um menino e triste como o início da primavera. Mas isso não deve confundi-lo. O que é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso. Ser solitário como se era quando criança, quando os adultos passavam para lá e para cá, envolvidos com coisas que pareciam importantes e grandiosas, porque esses adultos davam a impressão de estarem tão ocupados e porque a criança não entendia nada de seus afazeres.
E um dia, ao percebermos que suas ocupações são mesquinhas, que suas profissões são enrijecidas e não estão mais ligadas à vida, por que não olhar para eles como uma criança observa algo de estranho, a partir da profundeza do próprio mundo, da amplitude da própria solidão, que é ela mesma um trabalho, um cargo e uma profissão? Por que se desejaria trocar o sábio não-entendimento de uma criança pela atitude defensiva e pelo desprezo, uma vez que o não-entendimento é estar sozinho, mas a atitude defensiva e o desprezo são participações naquilo de que, com esses recursos, as pessoas querem se afastar?"

Quando eu era criança, meus pais tinham uma papelaria que ficava num barracão. Lembro que nos dias chuvosos, eu ficava no meu mundo infantil observando as pegadas que marcavam um papelão na porta de entrada e o chão de taquinhos enquanto as pessoas entravam e saíam de lá, apressadas em cumprir seus afazeres importantíssimos. É nesse lugar que eu encontro a minha infância, por entre pacotes e bobinas, papéis coloridos e grampeadores que também grampeavam dedos, uma boneca assustadora numa sala sombria, prateleiras gigantes que meus olhos não alcançavam o fim.

Referência:
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução de Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2007.

Num belo dia há o que se fazer, mas só existia nos dias tristes.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nosso Palestrante de Sábado para o módulo de Literatura e Cinema:
BETO CARMINATTI




- Nascido no Estado de Santa Catarina, mudou-se com a família em 1974 para Curitiba,
Onde participou das Oficinas de Cinema Ministradas por Valêncio Xavier na Cinemateca.

- Nos anos 80 dá início a sua carreira na área audiovisual realizando o filme Terra em parceria com Mauro de Andrade. Os dois realizadores foram premiados com o Kikito de melhor documentário no Festival de Gramado de 1986. Nesta mesma época com o grupo Lusco Fusco (SESC da Esquina), produz outros trabalhos em vídeo: O Marinheiro (baseado na vida de Fernando Pessoa) e Büchner (vida e obra do dramaturgo alemão Georg Büchner). Estes trabalhos recebem diversos prêmios em Curitiba, Maringá e em Porto Alegre (ver filmografia). Welcome to Paradise é outro filme (doc.) vencedor naquele ano, na sua categoria, do Festival Nacional de Maringá. Serpente Negra traz como tema central, grafites feitos por presos do sistema penitenciário Estadual.

- Na década de 90 dedica-se integralmente as empresas que tem sociedade. Satellite Vídeo Ltda, Fulltime Comunicação Ltda e Celluloid Cinevídeo Ltda. Atende a diversos clientes em todo o território nacional. Como conseqüência da sua formação em cinema é indicado ao prêmio de melhor vídeo clip da MTV pelo trabalho que desenvolveu com a banda Gueto.

- A partir de 2000 através da lei municipal de incentivo à cultura, começa a produzir os seus filmes: A Deus Menino, Eternamente, Sabedoria Popular e Um Dia Para Desaparecer, são roteirizados dirigidos e montados com a sua assinatura como, do mesmo modo o documentário Madre. Numa única noite lança 3 curta metragem na Cinemateca de Curitiba, a partir disso passa a ser solicitado como Diretor, Roteirista, Diretor de Fotografia, Montador em projetos de outros empreendedores, como a adaptação de Valêncio Xavier para o cinema em O Mistério da Japonesa e A Balada do Vampiro da obra de Dalton Trevisan, nestes dois filmes divide a Direção e a montagem e o roteiro.

- Mantém uma constante produção audiovisual e dá início a diversas vertentes da sua profissão como consultorias, direção de programas de televisão, cursos e oficinas, palestras, direção de peça de teatro, curadoria. Na área literária é convidado a lançar um livro de poesias. Deste projeto surge Espelho Selvagem, um livro trazendo dois poemas em prosa escritos na décadas de 70/80. A partir deste momento torna-se conhecido também por poetas e escritores. É solicitado a participar da coletânea de poetas contemporâneos do Paraná, produzindo por Ademir Demarchi intitulado Passagens. Em 2005 está preparando o roteiro para o seu 1º longa metragem. No plano empresarial dirige um programa para a televisão chamado TV FERA.

- Neste mesmo festival o curta “A Deus Menino” foi escolhido como melhor filme pela crítica especializada recebendo o Troféu Aramis Millarch.

- Eternamente foi selecionado na Mostra Internacional de São Paulo (Leon Cakoff) 2003/Mostra Internacional de Belo Horizonte e mostra internacional do Rio de Janeiro. Os filmes Eternamente e A Deus Menino participaram da Mostra Brasil Cinema, em Lisboa (2003).

- Recentemente o filme Eternamente esteve entre os 3 finalistas (categoria fotografia) para o prêmio ABCINE -Associação Brasileira de Cinema-2004, sendo exibido na semana ABCINE nos cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo. No Festival de Artes do Mercosul (FAM-2004) obteve o prêmio de melhor fotografia.

- Em julho de 2004, realizou o filme Terra Incógnita, em parceria com o diretor Gil Baroni, tendo como ator principal Ari Fontoura. Atualmente tem trabalhado como Roteirista, Diretor de fotografia, Câmera e Montador, em produções de outros Diretores.


Mais informações sobre o Beto: http://fulltimecom.com.br/beto/

terça-feira, 19 de maio de 2009

A madrasta da Branca é sapata?

Site de busca é uma coisa! Não pude deixar de postar isso:

"
O fato do castigo da rainha vir pelos pés, pelos calçados, é muito significativo no imaginário da homossexualidade feminina. Os pés "ardentes" da rainha a levam a caminhar por uma paixão tortuosa, condenada ao fracasso na história. A figura que eclode da bruxa é a da mulher que deseja a mulher visceralmente para absorvê-la e assimilá-la em seu âmago, somando suas potencialidades sensuais pela via dupla e gêmea do homoerotismo feminino. A busca da realização desse desejo de fusão com o mesmo é reprimida com castigo e morte sob tortura."

Para ler o texto completo:
http://www.umoutroolhar.com.br/enfoque_lcontosdefadas.htm

Simbolismo em Branca de Neve

Encontrei na net um texto sobre os aspectos simbólicos em Branca de Neve. O autor é o astrólogo que a Monica citou na aula passada, Cid de Oliveira.
Portas trancadas são refúgio por algum tempo. Eles continuam por perto.

sexta-feira, 15 de maio de 2009




Filme - Os Irmãos Grimm


Os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, nascidos no século XVIII, foram dois alemães que se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis, ganhando assim grande notoriedade. Entre suas mais famosas obras estão: Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Rapunzel e muitas outras.
O diretor Terry Gilliam é conhecido por sua fértil imaginação. Ele já criou filmes espetaculares como “Brazil – O Filme” e “Os 12 Macacos”. Todos os seus filmes sempre têm algo de maravilhoso em comum: o espetáculo visual.
Desta vez não é diferente. Em “Os Irmãos Grimm” as imagens são mágicas, a fotografia é colorida e criativa, enfim, é um colírio para os olhos.
No filme são contadas as aventuras dos lendários escritores de contos de fada Will e Jacob Grimm, dois irmãos que viajam através da Europa de Napoleão enfrentando monstros e demônios em troca de dinheiro rápido. Mas, quando as autoridades francesas descobrem seu esquema, os trapaceiros são forçados a enfrentar uma maldição real em uma floresta encantada. Onde jovens donzelas continuam a desaparecer sob circunstâncias misteriosas e horripilantes.
Os jovens atores Matt Damon e Hath Ledger (falecido recentemente) criam uma química sensacional que se torna um dos maiores chamativos do filme, e seus diálogos fluem perfeitamente. O filme é uma maravilhosa homenagem a esses geniais escritores.


Título Original: The Brothers Grimm / Gênero: Aventura / Tempo de Duração: 118 minutos /
Ano de Lançamento (EUA): 2005 / Direção: Terry Gilliam / Elenco: Matt Damon, Heath Ledger, Mackenzie Crook, Richard Ridings, Peter Stormare, Julian Bleach, Bruce MacEwen.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Neve, vidro e maçãs

Neil Gaiman



Eu não sei que espécie de coisa ela é. Nenhum de nós sabe. Ela matou sua mãe ao nascer, e nunca é demais lembrar sua culpa por isso.

Dizem que sou sábia, mas estou longe disso. Tudo que previ foram fragmentos, momentos congelados e presos em poças d'água ou no vidro do meu espelho. Se eu fosse sábia, não teria tentado mudar o que vi. Se eu fosse sábia, teria me matado antes mesmo de encontrá-la, antes mesmo de tê-lo conquistado. Sábia, e bruxa, ou assim o dizem, e eu tinha visto o rosto dele nos meus sonhos e pensamentos por toda a minha vida: dezesseis anos a sonhar com ele, antes do dia em que ele parou seu cavalo perto da ponte, naquela manhã, e perguntou meu nome. Ele me ajudou a montar no seu altivo cavalo, e fomos juntos para minha pequena propriedade no campo, meu rosto enterrado no dourado dos seus cabelos. Ele me pediu o que eu tinha de melhor; era seu direito, por ser rei.

Sua barba era de um vermelho-bronze à luz da manhã, e eu o conheci, não como um rei, pois eu não sabia nada sobre reis então, mas como meu amor. Ele teve de mim tudo o que queria - é um direito dos reis - mas me retrribuiu no dia seguinte, e na noite também: sua barba tão vermelha, seu cabelo tão dourado, seus olhos do azul de um céu de verão, sua pele bronzeada, com a cor gentil do trigo maduro.

Sua filha era só uma criança: não mais que cinco anos de idade quando eu cheguei ao palácio. Um retrato da sua mãe morta pendia da parede do seu quarto, na torre: uma mulher alta, seu cabelo da cor do ébano, os olhos castanhos. Sua pálida filha não parecia descender dela.

A garota não fazia suas refeições conosco. Eu não sei em que lugar do palácio ela comia. Eu tinha meus próprios aposentos. Meu marido, o rei, também. Quando ele me queria, ele mandava me procurar, e eu ia até ele, e lhe dava prazer, e também recebia um pouco.

Uma noite, vários meses após eu ser levada ao palácio, ela veio aos meus aposentos. Estava com seis anos. Eu bordava à luz do lampião, apertando meus olhos à sua fumaça e à sua parca iluminação. Quando levantei os olhos, ela estava ali.

- Princesa?

Ela não disse nada. Seus olhos eram negros como o carvão, negros como seus cabelos; seus lábios eram mais vermelhos que o sangue. Ela olhou para mim e sorriu. Seus dentes pareceram afiados, mesmo ali, à luz do lampião.

- O que você está fazendo ffora do seu quarto?

- Estou com fome - ela disse, como qualqquer criança. Era inverno, um tempo em que comida fresca é como um sonho de calor e luz do sol; mas eu tinha cordões de maçãs, descaroçadas e secas, penduradas nas vigas do meu aposento, e puxei uma para ela.

- Tome.

O outono é a época de secar, de preservar, a época de colher maçãs e gordura de ganso. O inverno é a época da fome, da neve e da morte, e é a época de Festival, quando esfregamos gordura de ganso na pele de um porco e o recheamos com as maçãs colhidas no outono, e então o assamos ou grelhamos, e organizamos o festival enquanto ele estala no fogo.

Ela pegou a maçã seca e começou a mordiscá-la, com seus dentes amarelos e afiados.

- Está boa?

Ela assentiu. Eu sempre tive medo da princesinha, mas naquele momento me aconcheguei a ela e com meus dedos, gentilmente, acariciei seu rosto. Ela olhou para mim e sorriu - ela sorria raramente - , e então fincou seus dentes na base do meu polegar, tirando sangue.

Eu ia começando a gritar, de dor e surpresa; mas ela olhou para mim e eu caí em silêncio.

A princesinha fixou sua boca à minha mão, e lambeu, chupou, sugou. Quando terminou, deixou meus aposentos. Diante do meu olhar, a perfuração feita por ela começou a se fechar, a cicatrizar, a sarar. No dia seguinte, ela era como uma cicatriz antiga: eu poderia ter cortado minha mão com um canivete, quando era criança.

Eu havia sido congelada por ela, possuída e dominada. Aquilo me assustou, mais do que o sangue de que ela havia se alimentado. Depois daquela noite, eu trancava meus aposentos ao anoitecer, barrando a porta com uma tranca de carvalho, e pedi ao ferreiro que fizesse barras de aço e as colocasse nas minhas janelas.

Meu marido, meu amor, meu rei, passou a me procurar cada vez menos, e quando eu ia a ele o encontrava atordoado, indiferente, confuso. Ele não conseguia mais fazer amor como um homem, e não me permitia dar-lhe prazer com minha boca; a única vez que tentei, ele se sobressaltou violentamente, e começou a chorar. Eu retirei minha boca e o abracei com força, até os soluços pararem, e ele dormiu, como uma criança.

Enquanto ele dormia, corri meus dedos pela sua pele. Estava coberta de muitas cicatrizes antigas. Mas eu não me recordava de nenhuma cicatriz na época da nossa côrte, exceto uma, no seu quadril, onde um urso o havia ferido na sua juventude.

Logo ele era apenas uma sombra do homem que eu havia conhecido e amado naquele dia, na ponte. Seus ossos estavam aparecendo sob a pele, azuis e brancos. Eu estava com ele nos seus momentos finais: suas mãos estavam frias como pedra, seus olhos de um azul leitoso, seu cabelo e barba escassos e opacos. Ele morreu sem tremer, sua pele picada e pustulenta da cabeça aos pés com cicatrizes minúsculas.

Ele já não pesava quase nada. O chão já estava bem congelado então, e não pudemos cavar seu túmulo. Então fizemos um marco de rochas sobre o corpo, como um memorial, pois restava muito pouco dele para proteger da fome das feras e dos pássaros.
E então eu era rainha.

E era tola, e jovem - apenas dezoito verões tinham se passado desde que vi a luz do sol pela primeira vez - e não fiz o que faria se fosse agora.

Se fosse agora, é verdade que eu teria arrancado seu coração. Mas também teria arrancado sua cabeça, braços e pernas. Eu a teria estripado. E teria assistido, na praça da cidade, enquanto o carrasco preparasse o fogo aos berros, assistido sem nem piscar enquanto ele entregasse cada parte dela ao fogo. Eu colocaria arqueiros ao redor da praça, que iriam atirar em cada pássaro ou animal que se aproximasse das chamas, qualquer corvo, cachorro, falcão ou rato. E não fecharia meus olhos até que a princesa virasse cinzas, e que um vento gentil pudesse espalhá-la como neve.

Eu não fiz nada disso, e nós pagamos por nossos erros.

Dizem que fui enganada; que aquele não era o coração dela. Que era o coração de um animal - um cervo, talvez, ou um urso. Dizem isso, mas estão enganados.

E alguns dizem (mas quem mentiu foi ela, e não eu) que me foi dado o seu coração, e que eu o comi. Mentiras e meias-verdades caem como neve, cobrindo as coisas que eu me lembro e as coisas que vi. Uma paisagem, irreconhecível depois de uma tempestade de neve; foi o que ela fez da minha vida.

Havia cicatrizes no meu amor, nas coxas do pai dela, nos seus testículos, e no seu membro, quando ele morreu.

Eu não fui com eles. Pegaram-na durante o dia, enquanto ela dormia e estava mais enfraquecida. Levaram-na para o coração da floresta, e lá abriram sua blusa e cortaram fora o seu coração, deixando-a morta, numa vala, para a floresta engolir.

A floresta é um lugar escuro, a fronteira de muitos reinos; ninguém seria tolo o suficiente para reclamar jurisdição sobre ela.
Foras-da-lei viviam lá. Ladrões viviam lá, e lobos também. Alguém poderia cavalgar por ela uma dúzia de dias e nunca ver uma alma que fosse, mas haveriam olhos sobre a pessoa o tempo inteiro.

Eles me trouxeram o coração dela. Eu sabia que era o dela - um coração de porca ou dde coorça não teria continuado pulsando e batendo depois de ter sido arrancado fora, como aquele.

Eu o levei para os meus aposentos. Não o comi; pendurei-o nas vigas sobre a minha cama, e preenchi a distância entre ambos com frutinhas do mato, vermelho-alaranjadas como o peito do tordo, e com cordões de alho.

Lá fora, a neve caía, cobrindo as pegadas dos meus caçadores, cobrindo seu corpinho na floresta onde ele jazia.

Pedi ao ferreiro que removesse as barras de aço das minhas janelas, e passei algum tempo no meu quarto, cada tarde naqueles curtos dias de inverno, perscrutando a floresta, até a escuridão cair.

Havia, como eu já mencionei, o povo da floresta. Eles saíam, alguns deles, para a Feira de Primavera: um povo mesquinho, animalesco e perigoso. Alguns eram atrofiados - anões, aleijados, corcundas. Outros tinham os dentes enormes e olhares vagos de idiotas. Alguns tinham dedos como barbatanas ou patas de caranguejo. Eles se arrastavam para fora da floresta a cada ano, na Feira da Primavera, após a neve derreter.

Quando eu era uma mocinha, trabalhei na Feira, e me assustava com eles, aquele povo da floresta. Eu lia a sorte para os visitantes da Feira, numa poça de água parada; e mais tarde, quando estava um pouco mais velha, num disco de vidro polido incrustado em prata - um presente de um mercador cujo cavalo desgarrado eu tinha encontrado através de uma poça de tinta.

Os guardadores do estábulo da Feira tinham medo do povo da floresta, pois eles roubavam suas coisas guardadas nas tábuas expostas do estábulo: pedaços de pão de gengibre, ou cintos de couro, que ficavam pregados com grandes pregos de ferro nas madeiras. Diziam que se seus artigos não estivessem pregados, o povo da floresta os pegaria e fugiria, mordiscando o pão e açoitando o ar com os cintos.

O povo da floresta tinha dinheiro, todavia; uma moedinha aqui, outra ali, às vezes já esverdeada pelo tempo ou pela terra, a face desconhecida até pelos mais velhos deles. Também tinham coisas para comerciar, e assim a feira continuava, servindo proscritos, anões e ladrões (se fossem silenciosos) que pilhavam dos raros viajantes vindos das terras além da floresta, ou dos ciganos, ou apanhavam cervos (isso era roubo aos olhos da lei, os cervos pertenciam à rainha).

Os anos passaram lentamente, e meu povo dizia que eu os governava com sabedoria. O coração ainda pendia sobre minha cama, pulsando gentilmente na noite. Se ainda havia alguém que pranteava a criança, eu não tinha evidência: tinham terror dela, e se consideravam livres da sua presença.

As Feiras da Primavera se sucediam; cinco delas, cada uma mais triste, pobre e pior do que a anterior. Poucos do povo da floresta saíam para comprar. Aqueles que vinham pareciam subjugados e apáticos. Os guardadores do estábulo deixaram de pregar seus pertences nas tábuas. E por volta do quinto ano, só um punhado do povo da floresta veio - uma pequena e assustada turba de homenzinhos peludos, e ninguém mais.

O Lorde da Feira e seu pajem vieram a mim depois que a feira acabou. Eu o havia conhecido de passagem, antes de me tornar rainha.

- Eu não venho a você como minhha rainha - ele disse.

Eu não disse nada. Só escutei.

- Eu venho a você porque vocêc; &eeacute; sábia - continuou - Quando você era criança, encontrou um potro desgarrado

olhando numa poça de tinta; quando era uma donzela, encontrou um infante perdido que havia vagado para longe de sua mãe, olhando naquele seu espelho. Você sabe segredos, e consegue encontrar coisas perdidas. Minha rainha - ele perguntou - o que está levando o povo da floresta? No próximo ano não haverá Feira da Primavera. Os viajantes de outros reinos se tornaram escassos, e o povo da floresta está quase desaparecido. Outro ano como este, e nós deveremos morrer de fome.

Ordenei à minha serva que trouxesse o meu espelho. Ele era simples, um disco de vidro polido incrustado em prata, que eu guardava envolto numa pele de corça, dentro de uma arca em meu quarto.

Trouxeram-no para mim, e eu olhei.

Ela agora estava com doze anos, e não era mais uma criança. Sua pele ainda era pálida, seus cabelos e olhos negros como carvão, seus lábios vermelhos como sangue. Ainda usava as roupas com que tinha deixado o castelo pela última vez - a blusa, a saia - apesar de elas estarem já muito gastas e remendadas. Sobre elas, usava uma capa de couro, e em
vez de botas, usava sacos de couro, amarrados com cordões, em seus pés minúsculos. Ela estava parada na floresta, atrás de uma árvore.

Enquanto eu olhava, com o olho da mente, vi-a correr e saltitar, passando de uma árvore para outra, como um animal, um morcego ou um lobo. Ela estava seguindo alguém.

Era um monge. Ele usava roupas de saco, e seus pés estavam nus, endurecidos e cheios de crostas. Sua barba e tonsura estavam crescidos e mal-aparados.

Ela o observava de trás das árvores. Finalmente ele parou para passar a noite, e começou a fazer um fogo, empilhando gravetos, e quebrando um ninho de torno para usar como acendedor. Ele tinha uma caixinha de metal na bata, e bateu a pedra de acender no aço até as fagulhas iniciarem o fogo. Havia dois ovos no ninho que encontrara, e ele os comeu, crus e sem tempero. Não deve ter sido uma refeição muito satisfatória para um homem tão grande. Ele sentou ali à luz da fogueira, e ela saiu do seu esconderijo. Agachou-se do outro lado do fogo e olhou fixamente para ele. Ele sorriu afetadamente, como se não visse um outro ser humano há muito, e com um gesto chamou-a para perto dele.

Ela se levantou e andou em volta do fogo, parando à distância de um braço. Ele remexeu na roupa até achar uma moeda - uma pequena moeda de cobre - e jogou-a para ela. Ela pegou-a e assentiu, indo até ele. Ele puxou a corda da cintura, e sua batina ondulou, abrindo-se. Seu corpo era tão peludo quanto o de um urso. Ela o empurrou para trás, no musgo; uma mão crispada, como uma aranha, caminhou pelo emaranhado de pelos, até fechar-se no membro. A outra mão traçou um círculo em volta do mamilo esquerdo. Ele fechou os olhos, e tateou com uma mão enorme sob a saia dela. Ela desceu com a boca para o mamilo que estava acariciando, sua pele suave e branca contra o corpo escurecido dele.

Ela cravou profundamente seus dentes no peito dele. Os olhos dele se abriram, depois se fecharam de novo, e ela bebeu. Ela o derrubou e se alimentou. Enquanto o fazia, um fino líquido enegrecido começou a pingar por entre as suas pernas.

- Você sabe o que está afasstanddo os viajantes de nossa cidade? O que está acontecendo ao povo da floresta? - perguntou o Lorde da Feira.

Eu cobri o espelho com a pele de corça, e disse a ele que cuidaria pessoalmente para que a floresta voltasse a ser segura. Eu tinha que fazê-lo, apesar de isso me aterrorizar. Eu era a rainha. Uma mulher tola teria então ido à floresta e tentado capturar a criatura; mas eu já havia sido tola uma vez, e não tinha vontade nenhuma de sê-lo de novo.

Passei algum tempo com livros antigos, pois eu sabia ler um pouco. Passei algum tempo com as ciganas (que atravessavam nosso país pelas montanhas para o sul, ao invés de passar pela floresta, para o norte e oeste). Eu me preparei, e obtive as coisas de que precisaria, e quando as primeiras neves começaram a cair, eu estava pronta.

Nua, eu fiquei, e sozinha na mais alta torre do palácio, um lugar aberto ao céu. O vento arrepiava meu corpo; minha pele ficou como a do ganso depois de depenado. Eu carregava uma bacia de prata, e uma cesta onde havia colocado uma faca e um alfinete de prata, alguns tenazes, um manto cinzento e três maçãs verdes.

Eu os pus no chão e fiquei ali, despida, na torre, humilde diante do céu da noite e do vento. Se algum homem tivesse me visto parada ali, eu teria atraído seus olhos; mas não havia ninguém para espiar. Nuvens cruzavam o céu, escondendo e descobrindo a lua minguante.

Peguei a faca de prata e fiz um talho no meu braço esquerdo - uma, duas, três vezes. O sangue pingou na bacia, a cor escarlate parecendo negra à luz da lua.

Adicionei o pó do vial que pendia do meu pescoço. Era um pó marrom, feito de ervas secas e da pele de um certa espécie de sapo, além de algumas outras coisas. Ele tornou o sangue mais espesso, impedindo-o de coagular.

Peguei as três maçãs, uma a uma, e furei suas peles suavemente com meu alfinete de prata. Então coloquei as maçãs na bacia de prata, e as deixei lá enquanto os primeiros pequenos flocos de neve do ano caíam lentamente na minha pele, nas maçãs e no sangue.

Quando a luz do amanhecer começou a iluminar o céu, eu me cobri com o manto cinza, e peguei as maçãs, agora vermelhas, na bacia, uma a uma, colocando cada uma na minha cesta com tenazes de prata, tomando cuidado para não tocá-las. Não havia restado nada do meu sangue ou do pó marrom na bacia, a não ser um resíduo negro, como verdete.

Enterrei a bacia no chão. Então joguei um encanto de glamour nas maçãs (como havia feito, anos antes, na ponte, comigo mesma), de modo que elas se tornaram, indubitavelmente, as maçãs mais maravilhosas do mundo; e o brilho carmim de suas cascas era da mesma cor cálida de sangue fresco. Puxei o capuz do meu manto para que cobrisse meu rosto, e levei fitas e lindos adornos de cabelo comigo, colocando-os sobre as maçãs na cesta de junco, e caminhei sozinha pela floresta até chegar ao lugar em que ela morava: um alto penhasco de arenito, entremeado por grandes cavernas que penetravam profundamente nas paredes de pedra.
Havia árvores e pedras redondas ao redor, e eu andei quieta e suavemente de árvore em árvore, sem perturbar um único graveto ou folha caída. Finalmente encontrei um lugar para me esconder, e esperei, e observei.

Depois de algumas horas, um grupo de anões rastejou para fora de uma das cavernas - homenzinhos feios, deformados e cabeludos, os velhos habitantes do país, que são vistos raramente agora.

Eles desapareceram no bosque, e nenhum deles me viu, apesar de um deles ter parado para urinar contra a rocha atrás da qual eu me escondia. Eu esperei. Ninguém mais saiu.

Fui até a entrada da caverna e gritei para dentro: "Olá?", numa voz rachada de velha.

A cicatriz perto do meu polegar latejou e pulsou quando ela veio da escuridão em direção a mim, nua e só. Ela estava com treze anos de idade, minha enteada, e nada maculava a alvura perfeita da sua pele, a não ser a lívida cicatriz do lado esquerdo do seu peito, onde seu coração havia sido arrancado dela há tempos atrás.

O interior das suas coxas estava manchado com uma líquido negro imundo. Ela me olhou atentamente, escondida, como eu no meu manto. Olhava para mim de um modo faminto.

- Fitas, senhora - grasnei - lindas fitaas paara o seu cabelo...

Ela sorriu e acenou para que eu me aproximasse. Um puxão; a cicatriz na minha mão me puxava para ela. Eu fiz o que tinha planejado, mas fiz mais prontamente do que achava que faria: soltei minha cesta e guinchei como a velha mascate que fingia ser, e corri.

Minha capa cinzenta era da cor da floresta, e eu fui rápida; ela não me pegou. Tomei o caminho de volta ao palácio.

Eu não vi como foi. Todavia, posso imaginá-la retornando, frustrada e faminta, à sua caverna, e encontrando minha cesta caída no chão. O que ela fez?

Eu gosto de pensar que primeiro ela brincou com as fitas, enrolou-as nos seus cabelos negros, no seu pescoço pálido ou na sua fina cintura. E então, curiosa, tirou o pano que cobria a cesta para ver o que mais havia lá; e viu as maçãs tão vermelhas. Seu aroma era de maçãs frescas, naturalmente; mas também cheiravam a sangue. E ela estava faminta. Eu a imagino pegando uma das maçãs, pressionando-a contra a face, sentindo a fria suavidade contra a pele. E abrindo a boca e mordendo-a profundamente...

Quando cheguei aos meus aposentos no palácio, o coração que pendia da viga do teto, junto com as maçãs, os presuntos e as salsichas, tinha parado de bater. Pendia dali, quieto, sem movimento ou vida, e me senti segura mais uma vez.

Naquele inverno, a neve foi alta e profunda, e começou a derreter tardiamente. Todos nós estávamos famintos quando a primavera chegou. A Feira da Primavera foi um pouco melhor nesse ano. O povo da floresta ainda era pouco, mas estava lá, e haviam viajantes das terras além da floresta. Vi os homenzinhos cabeludos da caverna na floresta comprando e barganhando por pedaços de vidro, e lupas de cristal e de quartzo. Pagavam pelo vidro com moedas de prata - o espólio das depredações da minha enteada, não tenho dúvida. Quando não havia mais o que eles comprarem, o povo da cidade corria às suas casas, voltando com seus cristais da sorte, e, em alguns casos, com pedaços inteiros de vidro.

Eu pensei brevemente em matá-los, mas não o fiz. Enquanto o coração permanecesse pendurado, silencioso, imóvel e frio, na viga do meu quarto, eu estaria segura, e também o povo da floresta, além do povo da cidade. Meu vigésimo-quinto ano veio, e minha enteada tinha comido o fruto envenenado há dois invernos, quando o Príncipe veio ao meu palácio. Ele era alto, muito alto, com frios olhos verdes e a pele morena do povo além das montanhas.

Ele cavalgava com uma pequena comitiva, grande o suficiente para defendê-lo, pequena o suficiente para que outro monarca - eu, no caso - não o encarasse como uma ameaça potencial.

Eu fui prática: pensei na aliança de nossas terras, pensei no Reino se estendendo das florestas até o mar, ao sul; pensei no meu amor louro e barbado, morto há oito anos; e, à noite, fui até o quarto do Príncipe. Eu não sou inocente, embora meu marido anterior, que foi meu rei, tenha sido realmente meu primeiro amante, não importa o que digam. A princípio, o Príncipe pareceu excitado. Ele me fez tirar a roupa e ficar parada em frente à janela aberta, longe do fogo, até minha pele ficar arrepiada e fria como pedra. Então ele pediu que eu me deitasse de costas, com as mão cruzadas sobre meus seios e meus olhos bem abertos - mas fixos nas vigas do teto. Ele me disse para não me mover, e para respirar o mais imperceptivelmente possível. Implorou que eu não dissesse nada. Abriu minhas pernas.

E então entrou em mim.

Quando ele começou a empurrar, senti meus quadris se levantarem, senti-me começar a me encaixar nele, ação por ação, empurrão por empurrão. Gemi. Não pude evitar.

Sua masculinidade escorregou para fora de mim. Eu a busquei e toquei, uma coisa minúscula e escorregadia.

- Por favor - ele disse, suavemente - vooc&eccirc; não deve se mexer nem falar. Só fique aí nas pedras, tão fria e tão bonita...

Eu tentei, mas ele havia perdido qualquer que fosse a força que o mantinha viril, e, um pouco mais tarde, deixei o quarto do Príncipe, suas maldições e lágrimas ainda ecoando em meus ouvidos.

Ele partiu cedo na manhã seguinte, com todos os seus homens, e eles cavalgaram para dentro da floresta.

Imagino seus quadris agora, enquanto ele cavalgava, um nó de frustração na base da sua masculinidade. Imagino seus lábios pálidos pressionados juntos, tão estreitamente. Então imagino sua pequena tropa cavalgando pela floresta, chegando finalmente ao jazigo de vidro e cristal da minha enteada. Tão pálida. Tão fria. Nua sob o vidro, pouco mais que uma garotinha, e morta. Na minha imaginação, quase posso sentir o repentino enrijecer do membro dele, dentro das calças, e vislumbrar a luxúria que o tomou então, as orações que murmurou sob a respiração, agradecendo sua boa sorte. Eu o imagino negociando com os homenzinhos peludos, oferecendo-lhes ouro e especiarias em troca do adorável cadáver no monte de cristal.

Eles aceitaram o ouro de boa vontade? Ou olharam para aqueles homens em cima dos seus cavalos, com suas espadas afiadas e suas lanças, e perceberam que não tinham alternativa?

Não sei. Eu não estava lá. Não estava espiando. Só posso imaginar...

Mãos, removendo os blocos de vidro e quartzo que cobriam seu corpo frio.

Mãos, gentilmente acariciando seu rosto frio, movendo seu braço frio, regozijando-se de encontrar o corpo ainda fresco e maleável.

Ele a possuiu ali, na frente de todos? Ou carregou-a até um lugar recluso antes de montá-la? Não sei dizer.

Ele removeu o pedaço de maçã da garganta dela? Ou seus olhos se abriram lentamente, enquanto ele estocava dentro do seu corpo? Será que aquela boca se abriu, seus lábios vermelhos se separaram, aqueles dentes amarelos e afiados se fecharam no pescoço dele, enquanto o sangue, que é vida, escorria pela garganta dela abaixo, levando o pedaço de maçã, minha posse, meu veneno?

Eu imagino; não sei.

O que sei é que fui acordada no meio da noite pelo coração dela, batendo e pulsando mais uma vez. Sangue salgado pingou no meu rosto, vindo de cima. Eu me sentei. Minha mão queimava e pulsava como se eu tivesse acertado a base do meu polegar com uma pedra.

Houve uma batida na porta. Tive medo, mas sou uma rainha, e não o demonstrei. Abri a porta.

Primeiro os homens dele entraram em meu aposento e ficaram em volta de mim, com suas espadas afiadas e suas longas lanças. Então ele entrou, e cuspiu no meu rosto.

Finalmente, ela entrou no quarto, como tinha feito logo que me tornei rainha, e ela era uma criança de seis anos. Ela não havia mudado. Não realmente.

Ela puxou o barbante onde o seu coração estava pendurado. Tirou as frutinhas secas, uma a uma; os bulbos de alho, agora ressecados depois de tantos anos.

Então ela pegou o seu pertence, seu coração pulsante - pequeno, não maior do que o de uma cabra ou filhote de urso - enquanto ele pulsava e despejava seu sangue na mão dela.

Suas unhas deviam ser tão afiadas quanto vidro; ela abriu o peito com elas, correndo-as sobre a cicatriz púrpura. Seu peito se escancarou, de repente, aberto e sem sangue. Ela lambeu seu coração uma vez, enquanto o sangue corria pelas suas mãos, e empurrou-o para o fundo do peito.

Eu a vi fazê-lo. Eu a vi fechar a carne do peito mais uma vez. Vi a cicatriz púrpura começar a desaparecer.

Seu príncipe olhou, brevemente constrangido, mas colocou seu braço em volta dela e ficaram lado a lado, esperando.

Ela continuou fria, e a exuberância da morte estava nos seus lábios, mas sua luxúria não foi de modo algum apaziguada.

Eles me disseram que iriam se casar, e que os reinos seriam unidos.

Disseram-me que eu estaria com eles no dia da cerimônia.

Está começando a ficar quente aqui.

Disseram às pessoas coisas ruins sobre mim; um pouco de verdade para dar sabor ao prato, mas misturada com muitas mentiras.

Fui amarrada e presa numa pequena cela de pedra sob o palácio, ficando lá por todo o outono. Hoje eles mandaram me buscar; tiraram-me os farrapos, lavaram-me a sujeira, rasparam-me o cabelo e o púbis, e sujaram minha pele com gordura de ganso.

A neve caía enquanto me carregavam; dois homens em cada braço e em cada perna, completamente exposta, aberta e fria, através da multidão da meia-estação, e me trouxeram para este forno.

Minha enteada ficou lá com o príncipe. Ela me observava na minha indignidade, mas não dizia nada.

Quando me jogaram lá dentro, escarnecendo de mim, vi um floco de neve pousar na sua face branca, e ficar lá sem derreter.

Fecharam a porta do forno atrás de mim. Está esquentando aqui, e lá fora estão cantando, festejando e batendo nos lados do forno.

Ela não ria, zombava ou falava. Não me olhou com desprezo, nem se virou.

Mas olhava para mim, e por um momento me vi refletida em seus olhos.

Não vou gritar. Não vou dar a eles esta satisfação. Terão meu corpo, mas minha alma e minha história são minhas, e vão morrer comigo.

A gordura de ganso começa a derreter e reluzir na minha pele. Eu não devo fazer nenhum som. Não devo mais pensar nisso.

Devo pensar no floco de neve no rosto dela. Penso no seu cabelo negro como carvão, seus lábios vermelhos como sangue, sua pele, branca de neve.

A flor

Data: 2 de maio de 2009.

A flor

Era uma flor vermelha, de um vermelho meio rosado, mas sem ser muito fraco, ainda com uma certa dignidade de vermelho. Os estames, da cor do ouro, como que saltavam de surpresa para fora das pétalas, que no interior tinham listras de cores mais claras e mais escuras, tal e qual os desenhos das asas de uma borboleta. Parecia incrível, num primeiro momento, que aquele caule verde fininho conseguisse sustentar todo aquele volume em cima dele, pois a flor em si parece uma cabeça de couve aveludada. Ela não nascia espetada no chão, mas sim era uma das várias flores espalhadas e sustentadas por uma trepadeira, no alto de uma árvore.
Mesmo assim, o caule é comprido, fininho e perigoso. Quando ele chega a mão para colher a flor, sente um espinho no dedo. Ai, que dor! Parece que ela se estende até entre as pernas, causando-lhe um calafrio, depois um frio como que por falta de circulação de sangue. Agora sente os pelos eriçados e está alerta. Com mais cuidado, corre dois dedos pela pequenina flor. No caule, vai sentindo a aspereza formada por uma sequência de espinhos que, depois de devidamente dominada, é até gostosa de sentir, lembra um pouco os pontos do braile. Os dedos sangram, mas não doem.
Ao alisar a cabeça da flor, fica entusiasmado ao sentir entre os dedos a fragilidade do vegetalzinho, cujas pétalas são uma seda um pouco mais grossa, como que um veludo. Parece que está acarinhando um bicho. Sente também os estames, bolinhas tão delicadas que não se demora muito tempo neles, para não esmigalhá-los de tanto amor. Mesmo assim, tem que jogar fora o pozinho amarelo e diminuto roubado pelas mãos.
Ao lembrar-se de que aquela flor é de maracujá, fica sentindo na língua a deliciosa fruta, muito doce e amarela, de uma doçura sem limites. Quando vê, está mordendo uma pétala para ver se tem o mesmo gosto. Não tem, é aquele gosto de clorofila tão característico da grama. Tenta comer o néctar, mas não sente gosto nenhum. Também, não é abelha.
Quando vai cheirar a flor, uma surpresa: não tem cheiro nenhum. Ora, se é de maracujá, e mesmo assim não tem gosto de maracujá, pelo menos o cheiro tem que ter! Chega o nariz mais perto e aspira fortemente uma, duas, três vezes. De repente, Deus seja louvado!, sente o cheiro do maracujá, como se fosse preciso raspar todo o ar inodoro para conseguir o cheiro bom. De repente, uma voz estridente, mas deliciosa, grita:
- Paiê! Fizemos suco de maracujá, e aqui está o seu copo!
É Bianca, sua filha de cinco anos. Comovido, ele pega o copo e dá também um presente para ela:
- Essa flor é pra você.
Barulho de máquina fotográfica e luz branca de flash. A mulher alta, agora de voz aflautada, que está com a foto preto-e-branco na mão, mostra-a para um velho e duas crianças:
- Está vendo, papai? Lembra desse dia? Foi quando eu vim aqui, no teu sítio, pela primeira vez, pouco antes daquela cirurgia que você fez no olho para voltar a enxergar...
- Ei, crianças, querem ouvir a história dessa flor? – pergunta o velho, apontando a bela flor em branco na mão de Bianca.
Ana Lúcia de Paulo Superchinski.

sábado, 9 de maio de 2009

Contos de Fadas e o Desenvolvimento Humano

Aqui tem um texto sobre o que falamos na aula e aqui tem outro, um pouco mais extenso. E antes de qualquer comentário, já parei com isso!
Abraços.
A carruagem já não é mais necessária para atravessar a floresta.
Os camundongos estão livres para voltarem ao lugar do qual pertencem.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Irmãos Grimm - Branca de Neve e Os Sete AnÕes
Irmãos Grimm - Branca de Neve e Os Sete AnÕes api_user_11797_Biblioteca

Ícaro


Com que então pertenço aos céus?
Não fosse assim, por que é que os céus
Me olhariam assim com seu eterno olhar azul,
Me chamando, e à minha mente, mais alto,
Sempre mais alto, sempre mais acima,
Me chamando sempre para o máximo,
Para alturas que homem algum imagina?
Por que, estudado o equilíbrio
E o vôo planejado até a última minúcia,
Até não haver margem para o infortúnio,
Por que, até aí, deve a ânsia de subir
Ser associada à insânia?
Nada nesta terra vai me ver satisfeito;
Novidades do mundo, logo monótonas;
Algo me chama lá em cima, para cima,
Cada vez mais perto da faísca do sol.



trecho de Ícaro, por Yukio Mishima
tradução de Paulo Leminski
Sol & Aço/85

Branca de Neve

Para quem se interessar e tiver um tempinho, aqui tem um texto que aborda o erotismo em Branca de Neve, comparando a versão de Márcia Denser (infelizmente não encontrei esta versão) com a dos irmãos Grimm.
Boa leitura!
Abraço a todos
Sozinha na noite, ela caminhava na tênue linha que a mariposa tecia.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Nossa colega Rita enviou esta seleção de filmes baseados em obras literárias. Deliciem-se!



"2001 - Uma Odisséia no Espaço" - explica o filme que saiu da história de Arthur C. Clarke: www.kubrick2001.com

"A.I. - Inteligência Artificial" - site do filme baseado em conto futurista de Brian Aldiss: www.aimovie.com

"Alta Fidelidade" - adaptação do livro homônimo de Nick Hornby: http://video.go.com/highfidelity

"Amnésia" - baseado em conto de Jonathan Nolan, irmão do diretor Christopher Nolan: www.otnemem.com

"Os Amores de Moll Flanders" - a protagonista foi baseada em livro de Daniel Defoe: www.mgmua.com/mollflanders

"Anna e o Rei" - escrito por Margaret Landon em 1944, o livro virou filme em 1946 e 1999: www.annaandtheking.com

"Ao Mestre com Carinho" - Edward Braithwaite escreveu o livro que se tornou célebre no cinema, com Sidney Poitier: http://tosirwithlove.co.uk

"A Um Passo da Eternidade" - clássico do cinema adaptado de história de James Jones: www.filmsite.org/from.html

"Beijos que Matam" - policial adaptado de obra de James Patterson: www.kissthegirls.com

"Bicho de Sete Cabeças" - veio do relato "O Canto dos Malditos", de Austregésilo Carrano: www.uol.com.br/bichodesetecabecas

"Blade Runner" - fã-clube do filme que veio do livro "Do Androids Dream of Electric Sheep?", de Philip K. Dick: www.bladezone.com

"Os Bons Companheiros" - site de fãs da versão cinematográfica do livro de Nicholas Pileggi: www.goodfellasweb.com

"O Calhambeque Mágico" - clássico infantil de 1968 escrito por Ian Fleming: www.chittychitty.com

"Uma Carta de Amor" - romance de Nicholas Sparks filmado em 1999: www.message-bottle.com

"Chocolate" - filme que veio do romance de Joanne Harris: www.miramax2000.com/chocolat

"As Cinzas de Ângela" - inspirado na autobiografia de Frank McCourt: www.angelasashes.com

"Clube da Luta" - adaptação do livro de Chuck Palahniuk: www.foxmovies.com/fightclub

"O Colecionador de Ossos" - thriller adaptado de livro homônimo de Jeff Deaver: www.thebonecollector.com

"Dança com Lobos" - cenas do filme do livro de Michael Blake: www.ozcraft.com/scifidu/dances.html

"O Diário de Bridget Jones" - o mundo feminino de acordo com a autora
Helen Fielding: www.msn.com.br/bridget

"Deuses e Monstros" - adaptado de "Father of Frankenstein", de Christopher Bram: www.godsandmonsters.net

"E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?" - tem como origem um poema da "Odisséia", de Homero: http://studio.go.com/movies/obrother

"...E o Vento Levou" - site do filme baseado no livro de Margaret Mitchell: www.franklymydear.com

"Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" - baseado em livro de Lois Duncan: www.spe.sony.com/movies/iknowwhatyoudid

"O Exorcista" - site oficial do filme baseado na obra homônima de William Peter Blatty: http://theexorcist.warnerbros.com

"Forrest Gump - o Contador de Histórias" - site de fã do filme, com fotos, sons e curiosidades: www.ionet.net/lesinokc/gump/gump.html

"Garota, Interrompida" - relato de Susanna Keysen:
www.girlinterrupted.com

"Garotos Incríveis" - adaptação para o cinema de livro de Michael Chabon: www.wonderboysmovie.com

"Harry Potter e a Pedra Filosofal" - adaptação da primeira parte da série de best-sellers de J.K. Rowling: www.harrypotter.com

"O Homem da Máscara de Ferro" - filme inspirado na obra de Alexandre Dumas: www.ironmask.com

"Laranja Mecânica" - sobre o filme de Stanley Kubrick e o livro de Anthony Burgess: www.geocities.com/Athens/Forum/3111/aco.htm

"A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" - site oficial desse filme de horror adaptado do conto "The Legend of Sleepy Hollow", de Washington Irving: www.sleepyhollowmovie.com

"A Lista de Schindler" - site sobre o filme de Spielberg adaptado de livro de Thomas Keneally: www.pbs.org/holocaust/schindler

"Medo e Delírio" - textos sobre o filme e o livro de Hunter Thompson: www.lasvegassun.com/dossier/misc/loathing

"Memórias Póstumas de Brás Cubas" - recém-adaptado para o cinema a partir de livro de Machado de Assis: www.memoriaspostumas.com.br

"Mera Coincidência" - adaptado do livro "American Hero", de Larry Beinhart: www.wag-the-dog.com

"O Paciente Inglês" - site de fãs do filme adaptado do livro de Michael Ondaatje: www.geocities.com/Hollywood/Set/6950

"Pecado Original" - filme que está em cartaz e partiu do romance "Waltz Into Darkness", de Cornell Woolrich: www.mgm.com/originalsin

"Planeta dos Macacos" - o francês Pierre Boulle escreveu essa história em 1963: www.planetoftheapes.com

"O Poderoso Chefão" - site dedicado à trilogia do cinema baseada na obra de Mario Puzo: www.jgeoff.com/godfather.html

"Psicopata Americano" - adaptação da obra homônima de Bret Easton Ellis:
www.americanpsycho.com

"Regras da Vida" - veja cenas do filme inspirado em livro de John Irving: www.miramax1999.com/ciderhouse

"Rollerball" - estréia nos EUA em 2002, refilmagem de filme de 1975, feito a partir de conto de William Harrison: www.rollerball.com

"O Senhor dos Anéis" - trilogia de J.R.R. Tolkien que chega às telas dos EUA em dezembro: www.lordoftherings.net

"Shrek" - animação inspirada em livro infantil de William Steig: www.shrek.com

"O Silêncio dos Inocentes" - fala desse filme e de "Hannibal", ambos baseados em livros de Thomas Harris: www.hannibalmovie.com

"Sleepers - a Vingança Adormecida" - adaptação de livro em que Lorenzo Carcaterra conta eventos de sua juventude em um reformatório: www.sleepers.com

"O Talentoso Ripley" - saiu de livro de 1955 de Patricia Highsmith: www.talentedmrripley.com

"Tieta do Agreste" - site do filme baseado na obra de Jorge Amado: www.skylight.com.br/tieta

"O Tigre e o Dragão" - a inspiração vem da literatura chinesa de Du Lu Wang: www.crouchingtiger.com

"Todos os Homens do Presidente" - o caso Watergate, de acordo com os jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward: www.teachwithmovies.org/guides/all-the-presidents-men.html

"Treze Dias Que Abalaram o Mundo" - fala da crise dos mísseis, com base em livro co-editado por Ernest May: www.thirteen-days.com


Sites de escritores cujos trabalhos deram origem a filmes

Alex Garland - site do autor de "A Praia", livro que virou filme com Leonardo DiCaprio: www.alexgarland.com

Alice Hoffman - "Da Magia à Sedução" foi escrito por essa escritora: www.alicehoffman.com

Alice Walker - autora de "A Cor Púrpura": www.luminarium.org/contemporary/alicew

Anaïs Nin - dedicado à autora cuja obra inspirou "Delta de Vênus": www.anaisnin.com

Anne Frank - escreveu diário que se tornou célebre por mostrar visão adolescente do Holocausto: www.annefrank.com

Anne Rice - escreveu livros como "Entrevista com o Vampiro": www.annerice.com

Ariano Suassuna - poemas do autor de "O Auto da Compadecida": www.secrel.com.br/jpoesia/ari.html

Arthur Conan Doyle - criador do detetive Sherlock Holmes: www.sherlockian.net

Boris Pasternak - escreveu "Dr. Jivago": www.rjgeib.com/heroes/pasternak/paster.html

Bram Stoker - "Drácula" é sua criação mais célebre: www.geocities.com/psmcalduff

Charles Dickens - vida e obra do autor de "Oliver Twist": http://humwww.ucsc.edu/dickens

Diane Fossey - site de instituição que leva o nome da autora de "Na Montanha dos Gorilas": www.gorillafund.org

Dick King Smith - autor de "Babe, o Porquinho Atrapalhado": www.randomhouse.com/kids/dickkingsmith

E.B. White - o filme "O Pequeno Stuart Little" veio da obra desse autor: www.harperchildrens.com/hch/author/author/white

Edith Wharton - leia, em inglês, o livro "A Época da Inocência": www.bartleby.com/1005

E.L. Doctorow - assista a uma entrevista com o autor de "Billy Bathgate": www.roland-
collection.com/rolandcollection/literature/101/W97.htm

E.M. Forster - traz a versão original do livro de que deriva o filme "Retorno a Howard's End": www.litrix.com/howards/howar001.htm

Fernando Gabeira - site do deputado e autor de "O Que É Isso,
Companheiro?": www.gabeira.com.br

Frances Hodgson Burnett - livros da autora, incluindo "The Secret Garden" e "The Little Princess": www139.pair.com/read/Frances_Hodgson_Burnett

Frederick Forsyth - escreveu "O Dia do Chacal": www.whirlnet.co.uk/forsyth

George Orwell - análise do livro "1984": www.gerenser.com/1984

Gustave Flaubert - site em francês dedicado ao autor de "Madame Bovary": www.univ-rouen.fr/flaubert

Harry Bates - leia "Farewell to the Master", história que inspirou o
filme "O Dia em Que a Terra Parou": www.dreamerwww.com/master/master.htm

H.G. Wells - "A Ilha do Dr. Moreau" e outros livros do autor:
www.bartleby.com/1001

Isaac Asimov - co-autor de conto que inspirou o filme "O Homem Bicentenário": www.clark.net/pub/edseiler/WWW/asimov_home_page.html

Isabel Allende - chilena que escreveu "A Casa dos Espíritos": www.isabelallende.com

James Ellroy - o filme "Los Angeles -Cidade Proibida" veio de um de seus livros: www.edark.org/ellroy

James Joyce - página dedicada ao irlandês autor de "Dubliners", que deu origem ao filme "Os Vivos e os Mortos": www.jamesjoyce.ie

Jane Austen - bom site sobre a autora de "Orgulho e Preconceito"
e "Razão e Sensibilidade": www.pemberley.com

John Grisham - especializado em livros sobre advogados, como "A Firma" e "O Dossiê Pelicano": www.randomhouse.com/features/grisham

John Updike - textos sobre o autor de "As Bruxas de Eastwick": www.nytimes.com/books/97/04/06/lifetimes/updike.html

Joseph D. Pistone - depoimento do policial infiltrado na máfia que escreveu o livro "Donnie Brasco": www.americanmafia.com/Pistone_Testimony.html

Júlio Verne - ficcionista de "A Volta ao Mundo em 80 Dias", "Viagem ao Centro da Terra" e "20 mil Léguas Submarinas": http://jv.gilead.org.il

Ken Kesey - fala do livro "Um Estranho no Ninho" e de seu autor: www.nhmccd.edu/contracts/lrc/kc/kesey.html

Laura Esquivel - autora mexicana de "Como Água para Chocolate": http://bluehawk.monmouth.edu/~pgacarti/E_Esquivel_Laura.htm

Leon Tolstói - bom site sobre o escritor de "Anna Karenina": www.ltolstoy.com

Lima Barreto - leia "Triste Fim de Policarpo Quaresma": www.vbookstore.com.br/nacional/limabarreto/quaresma.shtml

Marcel Proust - dedicado ao livro "Em Busca do Tempo Perdido":
www.tempsperdu.com

Marie Brenner - texto publicado na revista "Vanity Fair" que deu origem
ao filme "O Informante": www.jeffreywigand.com/insider/vanityfair.html

Mary Shelley - sobre a autora de "Frankenstein":
www.english.udel.edu/swilson/mws/mws.html

Michael Crichton - site do autor de diversos livros que foram adaptados para o cinema, como "Parque dos Dinossauros", "Esfera" e "Sol Nascente":
www.crichton-official.com

Oscar Wilde - entre seus livros está "O Retrato de Dorian Gray": www.oscariana.net

Pat Conroy - conheça o autor de "Príncipe das Marés": www.geocities.com/lowenstein1992/patconroy.html

P.L. Travers - leia "Mary Poppins", originalmente publicado em 1934: www.mary-poppins.co.uk/MPintro.htm

Primo Levi - site que conta os últimos momentos de Levi, sobrevivente de Auschwitz e autor de "A Trégua": http://bostonreview.mit.edu/BR24.3/gambetta.html

Robert Heinlein - informações sobre o escritor de "Tropas Estelares": www.nitrosyncretic.com/rah

Scott Turow - seu livro "Acima de Qualquer Suspeita" virou filme com Harrison Ford: www.scottturow.com

Stephen King - escreveu diversos livros que ganharam as telas, como "Carrie, a Estranha", "O Iluminado" e "À Espera de um Milagre": www.stephenking.com

Tom Clancy - perguntas e respostas sobre o autor de "Caçada ao Outubro Vermelho", "Jogos Patrióticos" e "Perigo Real e Imediato": www.clancyfaq.com

Tom Wolfe - autor de "A Fogueira das Vaidades": www.tomwolfe.com/authbio.htm


Umberto Eco - ensaísta italiano cujo romance "O Nome da Rosa" ganhou versão para o cinema: www.themodernword.com/eco

Victor Hugo - "Notre Dame de Paris" e "Les Misérables" são livros desse francês: www.ac-strasbourg.fr/pedago/lettres/Victor%20Hugo

Vladimir Nabokov - bom site sobre o autor de "Lolita": www.libraries.psu.edu/iasweb/nabokov/zembla.htm


Walter Scott - em 1819, escreveu "Ivanhoé": www.kirjasto.sci.fi/wscott.htm

William Gibson - fez o roteiro de "Johnny Mnemonic" com base em um conto
que ele mesmo escreveu: www.8op.com/gibson

William Shakespeare - os dez melhores filmes baseados na obra de Shakespeare, de acordo com o canal E!: www.eonline.com/Features/Topten/Shakespeare

Ziraldo - em 1994, o livro "Menino Maluquinho" virou filme: www.ziraldo.com


MARCELO GRIMBERG
free-lance para a Folha