sábado, 30 de maio de 2009

O Mito da Descida da Deusa

Comentamos sobre isso na aula (sete portais/sete véus), quando falamos de Salomé e lembrei do texto que segue abaixo:

Dea, nossa Dama e Deusa, soluciona todos os mistérios, até mesmo o mistério da Morte. Assim sendo, ela partiu rumo ao Submundo em sua nau, pelo Sagrado Rio da Descida. A seguir ela se deparou com o primeiro dos sete portais do Submundo. E seu guardião a desafiou, exigindo uma de suas vestes para que passasse, pois nada pode ser dado sem que algo seja oferecido em troca. E a cada um dos portais, a deusa teve de pagar o preço da passagem, pois os Guardiães assim lhe diziam: "Despe-te de tuas vestes, e livra-te de tuas jóias, pois não há nada que possas trazer a nossos domínios".

Assim, Dea cedeu suas jóias e sua vestimenta aos Guardiães, e foi conduzida, como um ser vivo que busca ingresso no Reino dos Mortos e dos Poderosos. No primeiro portal ela deixou seu cetro, no segundo sua coroa, no terceiro seu colar, no quarto seu anel, no quinto sua guirlanda, no sexto suas sandálias, e no sétimo seu vestido. Dea permaneceu nua e foi apresentada perante Dis, e tal era sua beleza que ele próprio se ajoelhou quando ela entrou. Depondo sua espada e sua coroa aos pés dela, disse: "Abençoados são teus pés, pois te trouxeram por esta senda". Ele então se ergueu e disse a Dea: "Fica comigo, eu imploro, e deixa teu coração ser por mim tocado".

E Dea respondeu a Dis: "Mas eu não te amo, pois por que fazes com que todas as coisas que amo e com as quais me delicio venham a fenecer e morrer?"

"Minha Senhora", respondeu Dis, "é contra a idade e o destino que falas. Não tenho poder, pois a idade faz com que tudo pereça, mas quando os homens morrem ao fim de seu tempo lhes dou repouso, paz e força. Por algum tempo eles habitam com a Lua, e com os espíritos da Lua; então podem retornar ao reino dos vivos. Mas és tão adorável e te peço para que não retornes, mas que vivas cá comigo".

Ao que ela respondeu: "Não, pois não te amo". Então Dis disse: "Se te recusas a me abraçar, deves prostrar-te perante o açoite da Morte". Respondeu a Deusa: "Se assim é, assim seja, tanto melhor!" Dea então ajoelhou-se em submissão perante a mão da Morte, e esta açoitou-a tão levemente que ela gritou: "Reconheço tua dor, a dor do amor".

Dis ergueu-a e disse: "És abençoada, minha Rainha e minha Dama". A seguir ele lhe deu cinco beijos de iniciação, dizendo: "Somente assim podes ambicionar sabedoria e prazer".

E ele ensinou-lhe todos os seus mistérios, e lhe deu o colar que é círculo de renascimento. E ela lhe transmitiu todos os seus mistérios, do cálice sagrado que é o caldeirão do renascimento. Eles se amaram e se uniram um ao outro, e por um período Dea viveu nos domínios de Dis.

Pois três são os mistérios na vida do Homem: Sexo, Nascimento e Morte (e o amor controla todos). Para atingir o amor, devemos retornar ao mesmo tempo e local dos que amaram antes. E devemos encontrar, reconhecer, lembrar e amá-los novamente. Mas para que possamos renascer devemos morrer e ser preparados para um novo corpo. E para morrer devemos nascer, mas sem amor não podemos nascer entre os nossos semelhantes.

Mas a nossa Deusa tende a favorecer o amor, o prazer e a alegria. Ela protege e cuida de suas crianças ocultas nesta vida e na próxima. Na morte ela revela o caminho que leva à comunhão com ela, e na vida ensina a magia do mistério do Círculo (existente entre os mundos dos homens e dos deuses).

da Tradição Aridiana,
Raven Grimassi, Way of the Strega

Referência:
GRIMASSI, Raven. Os mistérios wiccanos: antigas origens e ensinamentos. 3 ed. São Paulo: Gaia, 2002.

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