segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Por uma TV melhor

"Zapeando" pela Internet, acabei encontrando o texto de Ale Rocha desta semana, "Insensato telespectador", que gerou muita polêmica, como se pode ver nos inúmeros comentários abaixo. Para quem não sabe, Ale Rocha é o colunista de televisão do Site Yahoo!.
Criticando a novela "Insensato Coração", ele escreve que há cenas provocando a revolta dos telespectadores, a ponto de o Ministério Público ter sido acionado e a trama estar arriscada a ser indicada para só a partir dos 14 anos, ou seja, só poder passar a partir das 22h. E os autores, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, estariam se acomodando ao apresentar apenas personagens divididos entre o bem e o mal e o tal do "realismo", conseguido através das cenas de sexo e barracão. Para Ale Rocha, portanto, os telespectadores e os autores são ou estão caretas, pois o maniqueísmo poderia ser ultrapassado e idéias consideradas retrógradas poderiam ser discutidas, mas não são. Pelo que li dos comentários posteriores, muitos ficaram incomodados com essa utilização da palavra "careta", entendendo que o autor maldiz o pensamento ou atitude de defender valores moralmente aceitos e que seriam necessários à formação pessoal de crianças e adolescentes. Ainda segundo Rocha, muitos pais negligenciariam a educação, ou a transfeririam ao Estado, por isso a tentativa de tornar as tramas "caretas".
Não posso opinar sobre a novela diretamente, pois não a assisto. Mas tenho que concordar com quem diz que ninguém é obrigado a ver nada, pois tem o controle remoto. Eu iria até mais longe: que tal tentar desligar a TV uma vez por semana e procurar passar o tempo ou se divertir de uma forma completamente diferente? Além disso, as pessoas que denunciaram a novela ao Ministério Público alegaram que as cenas de sexo e barracão são exibidas às 21h10min, quando as crianças e adolescentes ainda estão na sala. Quando eu era criança, ia dormir entre 20h30 e 21h - minha mãe punha eu e o meu irmão na cama para poder ver as novelas desse horário. E isso nos anos 90, quando muitos dos meus colegas viam as novelas, às vezes até as minisséries. Eu comecei a ver novela com 11, 12 anos, e sempre com pelo menos a minha mãe por perto. Mesmo assim, demorei um pouco mais para começar a ver novela que passa às 21h. Nos intervalos, a gente discutia o que tinha acabado de ver. Ou seja, muita coisa ainda depende dos pais, mesmo. Não estou querendo dizer que a minha família tinha a postura mais correta com relação a esse assunto, até porque a minha mãe era só dona-de-casa, algo que já não fazia parte da realidade de muitas mulheres naquela época. Mas acredito que é possível, sim, controlar o que os filhos vêem.
Isso não quer dizer que a TV também não tenha responsabilidade pelo que veicula. Sabemos que muitas vezes ela banaliza sexo e violência em busca de pontos no ibope. E, se ela recorre a esses expedientes, é porque há muita gente assistindo, ou seja, o telespectador também tem culpa. No entanto, a situação dos teledramaturgos é bastante complicada, pois têm que render audiência, ou seja, se submeter às vontades de quem vê, que hoje está cansado do modelo de novela vigente, e no entanto não podem realmente ousar muito, tanto nos temas, pois há muito conservadorismo, tanto do povo como da emissora, como na narrativa, porque a maior parte dos brasileiros não está preparada para apreciar outras formas de narrativa, ou talvez personagens mais humanos, incluindo mocinhos mais humanos. É uma tarefa ingrata, escrever para um povo culturalmente bastante heterogêneo durante uma média de nove meses, mantendo a audiência. Lembro de um desabafo que li do Sílvio de Abreu uma vez, que falava que o povo tem uma relação mais emocional que intelectual com os personagens apresentados, e por conta disso os criadores não têm muita saída além de apelação e repeteco. Embora não concorde totalmente com isso, também pergunto: como fazer?
Concordo com um comentarista que disse que a emissora precisa contratar gente nova. Mas acrescentaria: precisa também flexibilizar suas regras teledramatúrgicas, afinal elas vêm dos anos 60! O Brasil era outro! E os pais precisariam retomar sua autoridade, para voltar a controlar o que os filhos vêem, saber que há outras opções no mesmo horário, ou mesmo desligar a TV e fazer outra coisa, em vez de ficar engolindo algo "menos pior", seja novela, seja qualquer outro tipo de programa. Seria o movimento dos telespectadores para que a televisão volte a ser feita de maneira mais inteligente. E algo tão insubstituível quanto a educação moral é a educação intelectual: o gosto pela cultura (leitura, museus, filmes de arte, etc.) deveria ser cultivado desde a infância, para que as novas gerações entrem em contato com outras possibilidades de histórias e personagens, estando mais preparadas para aceitar (ou mesmo repudiar) novas narrativas na telinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário