segunda-feira, 11 de abril de 2011

Poesia, o rejuvenescimento possível

Faz algum tempo que li uma crônica do Miguel Falabella, na revista Istoé, em que ele formulava uma ode à poesia, ressaltando, por exemplo, que ela é importante à imaginação. Um dos pontos altos desse texto, pelo menos para mim, foi quando sugeriu que deveriam existir postos de poesia 24 horas para pessoas cuja criatividade está em baixa.

Apesar de adorar ler poesia, não leio todo dia, mesmo tendo cadernos e mais cadernos preenchidos com poemas e letras de música, para meu próprio uso (ao contrário de Miguel, raramente me utilizo da Internet para buscar poesia, principalmente se for de poetas que não se expressavam pela língua portuguesa). Quando leio poesia, o dia fica mais leve e minha alma, mais suscetível a ver o mundo de forma diferente, prestando atenção em detalhes bobos, que pulam à minha frente como que aumentados, e nos quais normalmente não me ligo - não é à toa que Autran Dourado recomenda a candidatos a prosadores lerem alguns bons poemas antes de começarem a escrever, e que eu mesma passo a ter idéias para versos, como se tivessem me sido implantadas na cabeça, quando que na verdade a arte me devolveu a visão, ainda que por um momento. Mas, como ia dizendo, ainda não cheguei ao ponto de ler todo dia. Ainda prefiro quando a poesia me surpreende, que foi o que aconteceu, por exemplo, na última sexta-feira.

Alguém aí já ouviu falar dos Pacotes de Poesia do SESC? Trata-se de pacotes de pão com folhas de papel kraft dentro, contendo poemas de autores brasileiros, tanto clássicos como contemporâneos. Pois estava eu lendo a revista do Paço da Liberdade, espaço cultural no qual também se pode pegar os pacotes, quando lembrei que tinha um do Antonio Cícero numa gaveta, ainda virgem de leitura, e li de uma sentada. Nossa! Quanta beleza! Ele é desses poetas que trabalham metáforas finas, e por conta disso envolvem. (Bom, quem é fã da Marina Lima, irmã dele, para quem ele compõe letras, deve saber do que estou falando.)

Sempre que me abismo assim com algum escrito, parece que fazia muito tempo que não me expunha à beleza, ou seja, a minha alma estava precisada. Como tempo cronológico, nem faz tanto tempo assim: o último poeta de que me fiz acompanhar maciçamente, Bertold Brecht, esteve comigo em dezembro e janeiro. Depois disso, uns poemas e poetas esporádicos. Mas o tempo psicológico que nos afastava já parecia ser de anos! Preciso ler poesia com mais freqüência, ainda quero chegar a ler algumas todo dia, conforme o próprio Falabella sugeria em sua crônica. Cheguei à conclusão que até pode ser uma fonte da juventude, pois pode diminuir asperezas e arestas que a alma vai criando com o tempo.

Obs: Para quem quiser pegar Pacotes de Poesia, até dia 29 deste mês é do Francisco Alvim, que será substituído por Emiliano Perneta. Dá para pegar no Café do Paço da Liberdade, no SESC da Esquina e no SESC do Centro. E, agora, fiquem com uma palhinha de Antonio Cícero:

Oráculo


Vai e dize ao rei:


Cai a casa magnífica,


O santuário de Apolo;


Fenece o louro sagrado;


A voz da vidente emudece;


As fontes murmurantes se calam para


sempre.


Diz adeus adeus.


Tudo erra, tanto


A terra vagabunda quanto


Tu, planetário.


Criança e rei, Delira e ri:


Meu sepulcro não será tua masmorra.


Alimenta teu espírito também com meu


cadáver,


Pisa sobre estas esplêndidas ruínas e,


Se não há caminhos,


Voa.


Voa ri delira


Nessa viagem sem retorno ou fim.

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