segunda-feira, 4 de abril de 2011

Por que temos que envelhecer?

Semana passada, a minha mãe trocou a esponja de banho, que já estava quase se rachando em duas, por uma linda, durinha de dar gosto, que eu fui a primeira a inaugurar. Enquanto a usava, verifiquei que precisaria comprimi-la, e mantê-la assim, para me ensaboar melhor e, depois, para tirar toda a água dela. Achei uma pena, pois logo ela perderia seu belo formato duro e grande para ficar flácida e rachada, como a velha. Comecei a refletir por que ela não poderia voltar a ter o mesmo frescor e aspecto do primeiro dia de quando foi desembrulhada. E logo esse pensamento se estendeu às pessoas.

Eu mesma, apesar dos meus 21 anos, sinto que estou envelhecendo, e que a faculdade está tornando isso mais rápido. Em comparação às aulas de quando eu era criança, hoje estou mais desconcentrada, me sinto embotada, me estresso e me sinto desmotivada mais depressa, mais cedo, principalmente pelo fato de ter muitas coisas a fazer e pela impressão de que não precisaria serem tão atropeladas, todas ao mesmo tempo. Na minha opinião, esse é um dos grandes problemas da vida universitária, embora adore o ambiente acadêmico, e tenha escolhido estar nele. Ou seja, vou ter que me desgastar, para sair diferente de quando entrei, espero que melhor. A vida geral também não deixa de ser isso, pelo menos para quem acredita em vida após a morte: uma fase para que sejamos pessoas cada vez melhores. Para tanto, ou seja, para se ter uma vida realmente útil, é imprescindível o desgaste, físico, mental, espiritual..., significando ganho de experiências, que é um processo que muitas vezes dói, mas ninguém discute sobre a importância. Sob outro ponto de vista, também não passamos de instrumentos de trabalho, embora possamos nos manter jovens através de vários meios, desde qualidade de vida até cirurgias plásticas.

Mas de repente comecei a pensar: será que ia mesmo ser legal se, a cada desgaste, pudéssemos rejuvenescer, voltar ao que éramos inicialmente? Como num filme de ficção científica, poder substituir o chip a qualquer sinal de defeito? Isso nem mesmo seria lógico, pois implicaria desistir também de toda bagagem que vamos adquirindo pela vivência, ou seja, voltar exatamente à mesma inocência que tínhamos antes da morte de um ente querido, por exemplo. Por mais que nos doa a possibilidade de envelhecimento, creio que esse processo é importante para que nos lembremos de que nossa capacidade para tudo, inclusive para viver, é limitada. Mesmo que a ciência descubra uma maneira de nos tornar imortais, ou pelo menos mais longevos ainda, tenho a impressão de que a maior parte das pessoas não ia querer isso. Morrer também é descansar, e parece que ninguém tem dúvidas disso com relação a José Alencar, por exemplo. O envelhecer, então, pode ser entendido como uma ampulheta que marca o tempo de permanência, ou pelo menos de atividade, até que se tenha de ceder o bastão a outro, como no caso da troca de esponjas do começo deste texto, ou a vida (mesmo que em muitos casos não haja relação direta de envelhecimento com morte).

A princípio, envelhecer seria um morrer diário. Mas só a princípio. Existem sexagenários, septuagenários, octogenários, nonagenários (como se chama alguém que chegou aos cem anos, ou os ultrapassou?) que nos fazem esquecer isso, e, no meu caso, até desejar ter aquela idade, para ter aquela sabedoria. Novamente aqui o José Alencar pode servir como exemplo. Estas pessoas me fazem até pensar que os melhores jovens às vezes são os velhos, que às vezes faz-se necessário envelhecer para desfrutar da juventude. Porque eles não têm tempo a perder, sabem o que querem e já não estão amarrados pelas obrigações e convenções sociais. Sob estas perspectivas, tem muita gente que se descobre quando é declarada idosa, e detalhe: às vezes mesmo sofrendo com alguma perda de agilidade física ou mental. Mas isto já é assunto para outra crônica. Felizmente, pessoas não são como coisas: têm a possibilidade, por terem consciência, de prolongar seu tempo de juventude, contando com a sabedoria da velhice, mesmo tendo muitos anos no currículo.

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