segunda-feira, 20 de junho de 2011

A favor do otimismo

Há algumas semanas, a minha amiga Rita Vaz publicou uma crônica sobre otimismo (da qual infelizmente não consegui achar o link, por razões técnicas), sendo até um pouco intransigente em sua defesa. Mas eu concordo com ela, porque infelizmente se tornou um hábito muito comum, inclusive em crianças e adolescentes, a reclamação pesada por qualquer motivo. Conheço pessoas que não conversam de outra forma senão essa. No meu caso, dependendo do tom, agüento mais ou menos tempo um papo assim - até que saio da presença dessa pessoa como se estivesse carregando uma tonelada de nuvens negras.



No "Decamerão", do italiano Giovanni Boccaccio - livro maravilhoso que, ao contrário do que diz a sua fama, não tem só contos eróticos - há um exemplo de pessoa assim. Na oitava novela da sexta jornada, também conhecida como a Jornada de Elisa, a protagonista, Ciesca, é uma chata que tem o hábito de desqualificar todo mundo sem mais nem menos. Um dia em que ela disse ao seu tio que lhe era aborrecido ver pessoas desagradáveis, ele respondeu que então ela não deveria se olhar nunca no espelho. Apesar de saber que provavelmente Boccaccio não tinha a intensão de fazer disso uma metáfora, a imagem não deixa de ser perfeita - se os outros eram desagradáveis para ela, imagine ela para os outros. Ela via, todos os dias, a pessoa mais intragável do mundo, porém não se dava conta. Mas também dá, contrariamente, para utilizar o mito de Narciso para explicar este comportamento: a pessoa que só se vê a si mesma, "achando feio o que não é espelho", ou seja, incapaz de olhar para o mundo com um espírito de, então, querer melhorar alguma coisa da realidade, de se esforçar para ter uma idéia nesse sentido. Afinal, quem percebe um problema deveria ser a primeira pessoa a arregaçar as mangas para trabalhar na solução dele.



O otimismo pode ajudar bastante nesta visão mais colaborativa. Ao contrário dos que se definem como "realistas" dizem, há maneiras e maneiras de se conduzir esse sentimento. O otimismo é importante, porque ele permite a visão de que o mundo pode ser melhor, ou seja, a pessoa enxerga além da realidade, enxerga "como poderia ser". E vai trabalhar para que a realidade se aproxime pelo menos um pouco dessa visão, fazer a sua parte. Esse idealista não se conforma com o "as coisas sempre foram assim", se pergunta o por que de o mundo funcionar desse jeito, e não de outro. É esse tipo de atitude que deveria proliferar e servir de modelo para todos nós, e não a acomodação reclamona. Onde será que estão os otimistas?

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