segunda-feira, 11 de julho de 2011

Bom mocismo?

Estes tempos, estava lendo uma revista cujo nome não vou dizer aqui. Só digo que terminei de lê-la sentindo extrema angústia e desgosto, algo que a jornalista Monica Waldwogel definiu muito bem numa entrevista, inclusive para esta mesma revista, há alguns meses: "Quando eu termino de ler uma dessas revistas, fico angustiada. A quantidade de coisas que elas aconselham a fazer, a comprar, a aprender é uma enormidade". Ela estava se referindo especificamente às revistas femininas, mas isso acontece com os mais variados tipos de revista, hoje. Cada vez mais se entulha o mercado de dicas sobre isso e sobre aquilo, inclusive de combate ao stress, mesmo que ele seja em grande parte alimentado justamente pelo excesso de informações. A sensação é que agora qualquer um tem tudo o que precisa para ser feliz - se alguém continua tendo problemas e aflições, a culpa é dessa pessoa pela teimosia (ou impossibilidade) de aderir às soluções certas e rápidas.
Sem contar que estamos cada vez mais cercados de bons sentimentos - pobres dos produtos culturais, um dos maiores prejudicados por esse aspecto. Agora cada livro, filme ou peça de teatro, principalmente os dirigidos às crianças, têm que ter uma lição de moral no bojo, evidenciada nas simpáticas sinopses emitidas pelos meios de comunicação. Têm que ser funcionais, têm que ter alguma utilidade direta na vida do público visado - e, no caso das crianças, têm que ensinar boas maneiras de uma maneira lúdica, sendo muitas vezes reduzidos a isso. O mais incrível é que, muitas vezes, um texto lindo sobre a aceitação das diferenças, uma dessas sinopses, pode estar ao lado de um anúncio de produto para emagrecer, ou para ter os cabelos brilhantes! Qual a lógica?
Mas por que estou reclamando dos meios de comunicação? Eles refletem - claro que não de maneira exata e imparcial - o mundo em que vivemos, e muitas vezes têm que se submeter para se manter. Embora fosse muito bom que esses meios pudessem ser financiados de outras maneiras.
Mudando de assunto, porém, o que estão querendo esconder com tanta mensagem positiva, a todo momento? A complexidade da vida. Freqüentemente temos que enfrentá-la mesmo estando completamente despreparados, ela pode não fazer o menor sentido, pode mudar com uma velocidade incrível, nem sempre valoriza méritos e a única certeza que temos a respeito dela é que um dia vamos morrer. A maior parte das pessoas simplesmente não consegue viver com tudo isso na cabeça, então precisa de algum anestésico - mensagens edificantes, consumismo, álcool, drogas, fanatismo religioso... Algo que deixe o mundo mais simples, dê sempre a certeza do que fazer, em qualquer situação, e relaxe. Mas o principal problema de hoje é que, por trás desses anestésicos, há algumas megacorporações lucrando exponencialmente. Parece teoria conspiratória? Infelizmente, não é.

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