segunda-feira, 18 de julho de 2011

Caminhando ao Sol

Sexta-feira fiz uma coisa que não fazia há muito tempo: caminhei ao Sol. E sábado fui ler um livro na área comum do meu prédio, um espaço cheio de verde, na frente do parquinho, campinho de futebol e da academia ao ar livre. O Sol e um ventinho que batia estavam bem convidativos.
Há quanto tempo que não me permitia esses presentes! Em parte, por uma rotina agitada, mas também porque o tempo não ajuda. Estamos (ou estávamos, pois ontem já começou a chover e hoje já está mais frio e nublado) atravessando um veranico, que são os dias de calor no inverno. É gostoso um Sol suave, talvez mais próximo do tempo ameno e constante que imagino ser o eterno clima do lendário Jardim do Éden. No verão, infelizmente, o Sol está cada vez mais ardido. Com certeza que não sentiria o calor no meu rosto como uma carícia num Sol tão forte. Outra coisa de que gosto quando brilha o Sol é de observar, da minha janela, uma copa de árvore bem frondosa e verde-escura que fica na frente do meu apartamento sendo iluminada por ele: não sei por que, me lembra um dourado-prateado usado por Klimt, talvez o meu pintor favorito, no quadro "As três idades da mulher". Uma cor empregada justamente para fazer as areias que caem de uma ampulheta invisível, dos lados das três mulheres representadas.
No meu caso, enquanto estou passando por problemas (entenda-se pressões da faculdade), ajo comigo como se não tivesse direito a descanso ou benevolência, a me tratar bem, e o Sol destes dias me lembrou de que tenho esse direito, sim. E o melhor ainda é que algumas coisas podemos nos proporcionar de graça. Em outras palavras, ao me permitir pensar no Sol desta maneira, estou me lembrando de que ele existe e fazendo outros usos dele, além dos involuntários designados em Biologia.


É nessas horas que fico pensando em por que não se pode mais levar uma vida simples e descompromissada, apenas curtindo o Sol, como parece fazer o Caetano Veloso na letra da música "Alegria, alegria", reproduzida abaixo. Quando me permito sair ao Sol, acabo tendo essas idéias, de uma forma ou de outra malucas, mas necessárias para equilibrar a cabeça. Acho que isso é fazer um uso poético do Sol, é dar importância a ele de outras maneiras, o que também pode ser um exercício interessante para quem sente a mente vazia. É como dar um outro nome para uma coisa que já existe. E também descubro outras facetas de mim mesma, ou seja, de outra forma também me dou um outro nome, ao menos pelo tempo em que dura toda essa sensação.


Alerta: o Sol mencionado tantas vezes nesta canção não se refere sempre, necessariamente, ao astro-rei, mas a um jornal com este nome que existia aqui no Brasil na década de 60, uma espécie de ancestral do Pasquim:

Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...

Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...

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