segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Peço perdão aos cineastas

Nestes últimos dias, tenho sofrido com duas pragas que podem andar juntas: sapatos que machucam e atrasos. Para o meu trabalho de conclusão de curso, tenho percorrido Curitiba entrevistando cineastas, entre outras pessoas, o que está sendo um grande privilégio. Contudo, não tenho ido de tênis, que seria o recomendável para longas caminhadas, porque está calor. Gosto quando faz esse tempo, mas esta é, também, provavelmente a época em que mais sofro com sapatos.

Para começar, durante a maior parte do ano acabo usando tênis, que é uma invenção maravilhosa para quem gosta de ou precisa caminhar tanto, e acabo me desacostumando com sandálias e chinelos de dedo - preciso dar um tempo para que o vão entre os dedos não saia machucado com a hastezinha que separa o dedão dos outros dedos, por exemplo. Mas o problema não é só esse, claro, seria bom demais se fosse. Um sapato raspa no meu calcanhar, outro faz ferida na região do osso, outro oprime os dedos, o dorso do pé ou o calcanhar, e por aí vai. Às vezes, um pé está muito bem num sapato, mas o outro não, porque tenho alguns milímetros a mais em um deles (não lembro qual), o que é normal, conforme atesta a minha mãe, que é formada em Podologia. E, o problema dos problemas, tenho a maior ojeriza a sapatos de salto, embora socialmente se exija das mulheres pelo menos a adaptação a saltos anabela (que também me doem, ao menos nos primeiros dias de uso).

Lembro que, numa determinada época da minha vida, mais impaciente com essas dores, chegava a levar um sapato alternativo na mochila, para quando elas começassem. Estando eu uma vez com meu pai num ponto de ônibus, ele me viu trocando um calçado pelo outro e começou a rir: "Mulher é um bicho complicado, mesmo". A minha resposta: "Eu apenas estou escolhendo a dor que vou sentir". Porque um daqueles me apertava os dedos, e o outro me apertava, se não me engano, o calcanhar. Não lembro qual deles eu troquei.

Por tudo isso, não faz sentido para mim aquelas histórias, que volta e meia aparecem na mídia, de mulheres que colecionam sapatos e são loucas por sapatos de salto. Eu não me vejo assim, falando como mulher. Reconheço que são bonitos, até paro para olhar em vitrines, mas desanimo ao constatar que a maioria dos mais elegantes é de salto alto, e ainda por cima agulha! É um custo encontrar sandálias baixas. Todos pensam e agem como se todas as mulheres usassem saltos o tempo todo, quando eu mesma conheço várias que não gostam. Por que não mostrá-las ao lado das doentes por salto alto? Seria uma outra imagem da mulher na mídia. E será que não existem mulheres que não prefeririam encomendar sapatos a um sapateiro, que faria sob medida para elas? Eu sou uma dessas.

Para completar, muitas vezes ando demais porque me perco por esta cidade, apesar de morar aqui desde que nasci, e às vezes isso acontece mesmo indo para um lugar em que eu ia bastante antes e depois parei de ir. Parece que a minha memória deleta a maneira de chegar lá, e aí só batendo pernas para achar, porque, também ao contrário da maioria das mulheres, não gosto de pedir informações. Me guio por pontos de referência, nomes de ruas e os mapas dos pontos de ônibus. Mas, com tudo isso, não tenho primado pela pontualidade. Por isso, peço perdão aos cineastas, publicamente. Não quero atrapalhar o trabalho de vocês.

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