segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Criticar os cantores, não os fãs

Vi, semana passada, um texto do Regis Tadeu, comentador de música no site Yahoo!, sobre a suposta separação da dupla Zezé di Camargo e Luciano. Até tenho uns textos dele guardados, embora ache que ele seja por demais pessimista - quando quer ferrar com alguém, ferra mesmo, sem nenhuma piedade, e leva os fãs junto. Foi o caso desse texto sobre a dupla. É habitual que ele invista contra ídolos adolescentes, dando a entender que as meninas fãs deles, se pensassem, não cultuariam aquela pessoa.

Para início de conversa, e pela minha concepção, creio que a maior parte do público de Zezé di Camargo e Luciano já deve ter mais ou menos a idade deles, ou seja, na média dos quarenta e poucos. Por exemplo, quando noticiaram essa separação e perguntaram a opinião dos fãs, na TV quem aparecia era gente dessa faixa etária, se não mais velha. Não consigo enxergar pessoas de 15 anos gostando deles, embora com certeza deva existir uma exceção nesse sentido, sempre existe exceção. Ok. Mas o que realmente me deixou incomodada nesse texto foi a virulência com que atacou os fãs da dupla, simplesmente por serem fãs da dupla, dizendo que eles não têm o hábito de pensar, o que se nota pelos coraçõezinhos que fazem com as mãos nos shows, e que não têm noção de romantismo nem de poesia, a poesia do próprio cancioneiro brasileiro, que realmente é muito rico de bons textos.

Ao contrário do que pode parecer, não sou fã deles, embora tenha gostado do filme e goste de algumas músicas, mais antigas - como "É o amor", que foi a maior vítima de Regis Tadeu nesse artigo. É, aliás, uma das poucas dos dois que acho que tem alguma poesia, e olhe que ando investigando compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Raul Seixas, entre outros. Acho que o grande problema deles é que eles não cantam, apenas gritam. Até dá para entender que, quando se lançaram na carreira musical, foram sem muito preparo, porque não tinham condições de arcar com isso, mas agora quem disse que não poderiam fazer isso? Na minha opinião, quem é cantor tem que continuamente estar fazendo aula de canto, técnica vocal, essas coisas. Aprender e reaprender a usar o instrumento de trabalho, porque, ironicamente, quem é perito em uma área sabe que deve estar sempre estudando para se aprimorar, porque não sabe, nem nunca vai saber, tudo relacionado àquela área. Se a pessoa não tem essa humildade, ela vai acabar se limitando, e logo vai deixar de ser eficiente naquela atividade. Mesmo que, tendo feito um nome, continue sendo uma referência importante.

Repare que, para criticar a dupla, não precisei insultar também os fãs. Não vejo sentido nisso, porque o gosto por alguma coisa é composto por uma parte objetiva e outra subjetiva. A objetiva, pode-se dizer, é aquela que é medida pelas referências culturais, obtidas através da educação, portanto que são medidas estatisticamente. Por essa via, posso afirmar que muita gente que gosta de Zezé di Camargo e Luciano não tem outras referências de ritmos e cantores, o que na verdade é mais motivo de indignação contra a falta da educação de qualidade para todos do que contra as pessoas que não têm esse tipo de referência. É claro que existem os fãs desmiolados, principalmente entre meninas adolescentes, e esse tipo de pessoa é insuportável, mas não se pode generalizar que todos os fãs de um cantor sejam assim. No entanto, imaginando uma criança que entre na escola agora, e que se Deus quiser vai ter a sorte de pegar aulas de música já regulamentadas (já existe a lei tornando isso obrigatório, mas ainda não se sabe como essas aulas vão funcionar, por isso que elas ainda não entraram em vigor em todo o país), ou seja, que vai ser minimamente educada musicalmente, vai saber que existem outros tipos de música além das que seus pais gostam (que é a primeira referência para a criança) e vai poder escolher o que vai ouvir e saber argumentar por que gosta ou não gosta de algo. Isso é ótimo. No entanto, não necessariamente vai deixar de ouvir Zezé di Camargo e Luciano por causa disso. Eles podem ter sido a trilha sonora da sua infância, e ela pode prosseguir escutando-a, ou não. Mesmo sabendo, e dizendo, que eles não são a melhor referência dentro da música brasileira, ou da música sertaneja. Pode-se culpar alguém por causa dessa subjetividade? Claro que não. O único remédio é, realmente, tapar o ouvido, caso o gosto não seja o mesmo.

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